Título: CAMPANHA DE BENEDITA USOU CAIXA 2
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 05/10/2005, O País, p. 8

Afirmação é do petista Manoel Severino, ex-tesoureiro e ex-presidente da Casa da Moeda

BRASÍLIA. O ex-presidente da Casa da Moeda Manoel Severino dos Santos admitiu ontem à CPI do Mensalão a prática do caixa dois na campanha da ex-governadora Benedita da Silva à reeleição. Tesoureiro da campanha petista no Rio em 2002, ele afirmou que depois da eleição ¿ Benedita foi derrotada pela governadora Rosinha Garotinho ¿ teve de recorrer à direção nacional do partido para saldar dívidas reclamadas por fornecedores e prestadores de serviços, que somavam R$170 mil. Parte desse débito foi pago com recursos sacados das contas do empresário Marcos Valério Fernandes, denunciado como operador do mensalão.

¿ Os débitos não estavam registrados. Não houve retificação desses gastos à Justiça Eleitoral. Isso eu confirmo ¿ disse Manoel Severino.

Anteontem, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse que caixa dois é coisa de bandido.

Filiado ao PT desde a fundação do partido, Manoel Severino disse que foi escolhido por petistas do Rio para presidir a Casa da Moeda, onde ficou de maio de 2003 a agosto passado. Quando os credores de Benedita começaram as cobranças, ele observou que já sabia da futura nomeação. Por isso, preferiu encarregar outro dirigente petista, o ex-presidente do sindicato dos metalúrgicos do Rio Carlos Manoel da Costa Lima, da tarefa de procurá-los e negociar os pagamentos com o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

Segundo Manoel Severino, só depois de quitada parte da dívida ele soube que o dinheiro era de Valério. Manoel Severino, no entanto, negou ter recebido os R$2,6 milhões que Valério informou à CPI ter repassado ao petista, em pagamentos realizados entre agosto de 2003 e junho de 2004. O petista só reconheceu ter responsabilidade sobre a primeira parcela, de R$100 mil, em 19 de agosto de 2003. Mas afirmou que não foi sacar a quantia e negou ter recebido dinheiro de Valério ou entrado em agências do Banco Rural (onde eram feitos os pagamentos) aceitando inclusive uma acareação com o empresário.

O depoimento de Manoel Severino irritou os parlamentares da CPI. Praticamente todos que o inquiriram reclamaram e consideraram que mentia. Um dos pontos mais explorados do depoimento foram as relações entre Manoel Severino e Valério. O depoente contou ter conhecido Valério em 2003, já na Casa da Moeda. O empresário teria telefonado ao ex-presidente do órgão e pedido uma audiência para apresentar seus serviços.

Segundo Manoel Severino, Valério estava interessado em contratos de publicidade com a Casa da Moeda. Nessa conversa, descobriram ter em comum a amizade de Delúbio. Os outros seis encontros aconteceram em locais variados.

Manoel Severino afirmou que pediu a ajuda de Valério para obter um contato com o comando da Brasil Telecom porque queria reativar uma fábrica de cartões telefônicos da Casa da Moeda. Ele procurara antes a diretoria da Telemar para oferecer a fábrica para uma parceria. Esse relato incomodou especialmente os integrantes da CPI. Moroni Torgan (PFL-CE) considerou a história idiota.