Título: Quase uma Minas sob ameaça de virar deserto
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 05/11/2004, O país, p. 14

Uma extensão de terra equivalente ao estado de Minas Gerais está ameaçada pela desertificação no Brasil. São 574 mil hectares onde o país pode enfrentar um dos graves problemas ambientais no caminho para o desenvolvimento sustentável. A análise dos dados, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que o assunto exige cuidado. O Ministério do Meio Ambiente informa que na região do semi-árido nordestino, onde o clima torna o solo muito suscetível a esse processo, a degradação pode atingir até 12,9 milhões de pessoas.

¿ O país dedica atenção às questões da biodiversidade e da água, esta tratada até em campanha da Igreja Católica, refletindo essa conscientização. Mas o solo é um aspecto ambiental quase esquecido. Não é tratado com a mesma ênfase, apesar das conseqüências sociais e econômicas que o problema acarreta. É preciso acordar ¿ constata o biólogo Judicael Clevelario, do IBGE, responsável pelo estudo das informações ambientais da Síntese de Indicadores para o Desenvolvimento Sustentável, apresentada pelo instituto ontem.

Fenômeno será prioridade da ONU em 2006

Impedir ou frear esse processo não é uma tarefa exclusiva do Brasil. A desertificação é um fenômeno global, monitorado pela Organização das Nações Unidas. Pode afetar a vida de um bilhão de pessoas no planeta. Ao contrário do que ocorre na África, contudo, aqui a causa não são as alterações climáticas, mas a ação do homem. O mau uso do solo é o principal fator de risco, com a exploração excessiva dos recursos naturais.

¿ No Brasil, seria mais interessante fazer essa classificação com base na suscetibilidade do solo, porque aqui o problema não é o clima ¿ diz o biólogo.

O problema tem tal dimensão que a Assembléia Geral da ONU declarou 2006 o Ano Internacional dos Desertos e da Desertificação. Em 17 de junho, dia mundial do combate à desertificação, o secretário-geral da entidade, Kofi Annan, emitiu um comunicado para alertar sobre os efeitos desse processo: redução da fertilidade dos solos, a conseqüente insegurança alimentar e a pobreza, fonte de tensões sociais, econômicas e políticas.

Rio Grande do Sul tem areais em dez cidades

O estudo do IBGE só inclui as terras do semi-árido e do Rio Grande do Sul, onde o processo é chamado de arenização e ocorre em dez municípios do sudoeste do estado, uma área de 30,8 mil quilômetros quadrados. Mas já há outros 1.600 focos. No Nordeste, existem quatro núcleos de desertificação detectados: Cabrobó (PE), Gilbués (PI), Irauçuba (CE) e Seridó (RN).

A erosão, no entanto, afirma Clevelario, existe em todo o país e não se percebe com exatidão os danos que provoca: assoreamento dos rios, acúmulo de terra no fundo das barragens e reflexos na produção de energia, além de mudar a qualidade da água.