Título: Ciro e seus votos no baixo clero viram fiel da balança
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Globo, 29/09/2005, Nacional, p. A7

Afilhado político do ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti, o segundo vice-presidente da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), declarou seu apoio ao deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), mas começou a ser cortejado pela oposição e pela base aliada antes mesmo de ser proclamado o resultado do primeiro turno. Ainda sem saber que havia conquistado 76 votos, Ciro Nogueira recebeu o presidente em exercício da Câmara, deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL), que já queria começar a articular o apoio do PP e dos eleitores de Ciro a sua candidatura. O próprio Aldo, candidato governista, foi em seguida ao gabinete da segunda vice-presidência. Passava das 16 horas e Ciro estava apenas começando a negociar com Nonô e Aldo o apoio de seus eleitores a uma das duas candidaturas. Àquela altura, ele apenas repetia a jornalistas que a eleição havia sido polarizada e que a decisão de apoiar Nonô ou Aldo seria da bancada parlamentar do PP, com 53 deputados.

RESPEITO

Com bom trânsito no baixo clero da Câmara, Ciro Nogueira deixou claro em seu discurso antes da primeira votação que ganharia a disputa quem convencesse a maioria dos deputados de que o respeito a cada um dos 513 deputados seria o lema da gestão do sucessor de Severino. "Escolhi como tema de minha campanha 513 líderes e um compromisso: trabalhar por este país. Com isso, quis deixar claro que todos aqui são iguais e merecemos ter a mesma oportunidade: mostrar que somos capazes de dar o que temos de melhor para fazer o melhor pelo nosso país. Se todos os brasileiros são iguais perante a lei, os seus representantes também são no seu trabalho no nosso Parlamento", discursou Ciro.

O deputado afirmou que o critério para a escolha do presidente da Câmara não seria o da "simpatia". "Não estamos em um clube ou condomínio, onde as simpatias e antipatias prevalecem." Para Ciro, o novo presidente da Câmara deveria tentar fechar o compromisso de que as decisões no comando da Câmara devem ser "impessoais" e sem "autoritarismos".

Depois das primeiras conversas com Nonô e Aldo, Ciro foi ao encontro do líder do PP na Câmara, José Janene (PR), para uma reunião sobre o destino de seus votos. Ficou lá mais de duas horas.

Estiveram na reunião o deputado Michel Temer (PMDB-SP), Aldo, Nonô e o ministro das Cidades, Márcio Fortes, apadrinhado por Severino. Ao final da reunião, o PP anunciou a decisão de apoiar Aldo e Ciro Nogueira deu uma rápida entrevista a jornalistas. "Eu acompanho a decisão da bancada", disse Ciro, sem, no entanto, convencer alguns de seus correligionários de que votaria no candidato do Palácio do Planalto.