Título: TAMBÉM SUMIU COCAÍNA DO COFRE DA PF
Autor: Célia Costa
Fonte: O Globo, 05/10/2005, Rio, p. 17

Vinte quilos de droga apreendida há um ano foram levados do local de onde dinheiro foi roubado

O superintendente da Polícia Federal do Rio, delegado José Milton Rodrigues, informou ontem que um outro roubo na sede da superintendência está sendo investigado. Vinte quilos de cocaína, que estavam na mesma sala-cofre da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da qual mais de R$2 milhões da Operação Caravelas foram roubados há quase três semanas, foram substituídos por uma mistura: pouca cocaína e outra substância, provavelmente cafeína. Além disso, na nova pesagem da droga, os policiais descobriram que mais de dois quilos desapareceram: havia menos de 18 quilos no cofre.

Foi aberto ontem um inquérito para apurar o sumiço da droga. A falha foi descoberta pelos agentes federais que estão fazendo uma correição na DRE. Segundo um agente, o saco com a droga estava sem lacre. Todo o material foi enviado para Brasília para uma análise mais rigorosa. O laudo deve ser divulgado hoje.

Faltam provas para levar culpados para a cadeia

O superintendente disse que já tem certeza sobre quem são os autores do furto de R$2 milhões do cofre da DRE. Sem falar em número de suspeitos, José Milton ressaltou, no entanto, que ainda faltam provas para que a prisão deles seja pedida à Justiça:

- Temos 95% de certeza sobre a autoria do furto. Precisamos localizar a prova material, que é o dinheiro - disse José Milton. - O grande desafio é provar o crime. Se provar, a gente prende.

Com os dois roubos no mesmo cofre, a situação do chefe do cartório da DRE, Fábio Kair, responsável pela guarda das chaves, se complica. Ele, no entanto, diz que nada tem a ver com os crimes:

- O saco da cocaína já estava sem o lacre desde que veio da perícia. Eu fiz novo teste depois que foi entregue ao cartório. Se houve alguma troca, o mais provável é que tenha sido na perícia.

Os 20 quilos de cocaína foram apreendidos por policiais federais no dia 12 de outubro de 2004 na Serra das Araras. A droga estava dentro de uma bolsa com Cleide Maria Batista de Souza e Elizabeth da Penha dos Santos.

José Milton disse que a certeza sobre a autoria do furto do dinheiro é baseada em algumas evidências, como digitais, escutas telefônicas e contradições em depoimentos. Houve também uma tentativa de troca de uma certa quantia numa casa de câmbio do Rio que está sendo investigada. A Polícia Federal já pediu à Justiça a quebra dos sigilos bancário e telefônico dos suspeitos.

Nos corredores da superintendência, outra versão é comentada. Um agente, que estava de plantão no dia do furto, teria sido chamado para participar do crime e não aceitou. Depois disso passou a ser ameaçado de morte e teria dito os nomes dos autores do crime.

A correição prossegue na DRE, que ficará sob intervenção durante 90 dias. O delegado Alfredo Dutra saiu do comando e ainda não sabe para qual delegacia será designado.

- Ele é um delegado de nossa absoluta confiança, mas foi traído. Ele não tem condições emocionais de continuar lá - disse José Milton.

Na DRE, ficarão dois delegados: um de Pernambuco e outro do Rio Grande do Norte. As mudanças nas chefias prosseguem. Treze delegados em cargos de confiança já estão remanejados, um deles o corregedor Victor Poubel. Ele foi convidado para assumir a delegacia de Campos. No lugar do Poubel, ficará o delegado Davi Salem.

Legenda da foto: A SALA-COFRE da Polícia Federal: dali já foram roubados R$2 milhões e os vinte quilos de cocaína