Título: NO ADEUS A EMILINHA, CHORO E CABELOS BRANCOS
Autor: Ana Wambier
Fonte: O Globo, 05/10/2005, Rio, p. 22

Velório reúne os fãs do tempo de ouro do rádio. Cantora é sepultada sob aplausos e chuva de papel picado

O velório da Rainha do Rádio, Emilinha Borba, mostrou que a idolatria pode durar cinco décadas e que os fãs dos anos dourados são fiéis no amor até que a morte os separe de seus ídolos. Ontem, enquanto o corpo de uma das cantoras mais populares da história do Brasil era velado na Câmara de Vereadores, mais de 3 mil pessoas passaram pelo saguão principal do prédio para o último adeus. Enquanto alguns choravam ao lado do caixão, outros cantavam velhas e conhecidas marchinhas de Emilinha, como "Chiquita Bacana".

Jovens também comparecem ao velório

Alguns famosos como Aguinaldo Timóteo e Alcione foram à Câmara para as homenagens, mas o velório de Emilinha Borba foi marcado mesmo pela presença popular. Em sua maioria, incógnitos senhores e senhoras de cabelos brancos encheram o saguão. Embora a faixa etária não deixasse dúvida de que Emilinha foi um ícone das décadas de 50 e 60, a presença de uma grande quantidade de jovens mostrava que seu carisma era atemporal. As frases mais usadas pelos fãs para descrever Emilinha eram cheias de adjetivos para lembrar suas qualidades.

- Ela era linda, carismática e simpática - disse Heloísa Vasconcellos, que foi presidente por mais de 40 anos do Fã-Clube de Emilinha Borba em Volta Redonda.

Virgínia Lane, a cantora Adelaide Chiozzo e o locutor José Messias lembraram o tempo em que Emilinha brilhou na Rádio Nacional.

- Nós duas estreamos em 1935 no Cassino da Urca. Ela cantava e eu dançava e mostrava as pernas, que eram muito bonitinhas. Ela insistiu que eu cantasse também. De tanta insistência, acabei gravando "Sassaricando". Ela foi uma grande incentivadora e achava que eu não tinha só pernas para mostrar - contou Virgínia Lane, que veio ao Rio especialmente para o velório.

Abalado, o filho de Emilinha, Arthur Emílio, disse não ter ficado surpreso com a comoção popular:

- Minha mãe era uma artista popular e acessível. Os fãs vêm falar conosco como se fossem parentes. Isso traz um conforto. Mas a dor que eu tenho aqui dentro, essa ninguém tira.

Marinheiros em traje de gala foram ao velório. Às 16h de ontem, o caixão de Emilinha foi levado num carro do Corpo de Bombeiros, que fez um cortejo pelo Centro, passando em frente à Marinha e a Rádio Nacional. Emilinha foi enterrada no Cemitério do Caju às 17h30m, ao som de suas músicas e sob aplausos e chuva de papel picado.

Legenda da foto: MARINHEIROS E fuzileiros carregam o caixão na saída da Câmara