Título: EMPREGO FORMAL: 64% GANHAM ATÉ 3 MÍNIMOS
Autor: Geralda Doca
Fonte: O Globo, 05/10/2005, Economia, p. 25

Pesquisa do Sesi mostra que um a cada quatro trabalhadores com carteira assinada não ficou nem 8 anos na escola

BRASÍLIA. Baixa remuneração e pouca escolaridade resumem o perfil da maioria absoluta dos trabalhadores com carteira assinada no Brasil. Segundo pesquisa divulgada ontem pelo Serviço Social da Indústria (Sesi), houve um achatamento nos salários entre 2001 e 2003, quando a proporção de empregados na faixa entre um e três salários-mínimos subiu de 58,1% para 64,2% da força de trabalho. Ao mesmo tempo, houve uma queda de 6,2 pontos percentuais no número de pessoas contratadas com valores acima de três pisos.

O levantamento revelou também que, do universo de 29,5 milhões de trabalhadores, 26% não concluíram o ensino fundamental (1ª a 8ª série) e 1% (288.322) são analfabetos. Ou seja: praticamente um em cada quatro brasileiros que têm carteira assinada não tem a educação mínima exigida de um trabalhador segundo parâmetros internacionais.

Enquanto os brasileiros empregados têm menos de seis anos de estudo, os da Argentina ficam na escola durante pelo menos dez anos e os do Chile estudam em média 12 anos. A radiografia do emprego formal no país foi elaborada a partir de dados de 2003 da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho.

- O problema é grave, pois afeta diretamente a produtividade. Quanto menos instruído é o trabalhador, menos condições ele tem de atender às demandas, principalmente na área de tecnologia - disse o coordenador da Unidade de Pesquisa e Avaliação do Sesi, Alex Mansur.

Economista: país precisa de educação com qualidade

Para os especialistas em mercado de trabalho, a concentração de empregados na faixa salarial de até três salários-mínimos tem relação direta com a baixa escolaridade. Segundo José Pastore, professor de Relações do Trabalho do Departamento de Economia da USP, o país precisa investir na qualidade da educação. Ou seja, não basta garantir que todas as crianças estejam matriculadas, disse Pastore, e crescer acima de 3,5% ao ano para melhorar o perfil do emprego.

- O país está gerando emprego, mas de baixa qualidade. Sem dúvida está havendo um achatamento de salário, sobretudo para a classe média - afirmou Pastore.

- É visível um aumento da base da pirâmide em termos de renda, em conseqüência do esvaziamento dos postos de trabalho de classe média - reforçou Marcio Pochmann, professor de Economia da Unicamp.

Economista do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcelo Neri chamou a atenção para o fato de o Brasil estar criando postos de trabalho de forma surpreendente na comparação com anos anteriores. Entre 2001 e 2003, houve um aumento de 8,7% no nível de emprego formal, segundo a pesquisa do Sesi. Mas ele ressaltou também que os empregos foram de baixa qualidade.

Os dados relativos à escolaridade mostram percentual elevado dos trabalhadores que não terminaram o ensino médio (16,4%) e dos que concluíram essa etapa mas não conseguiram chegar à faculdade (29,5%).

Indústria é mais lenta para reduzir analfabetismo

De acordo com o levantamento, a indústria (transformação, extrativa, serviços de utilidade pública e construção) pode ser o mais dinâmico dos setores, mas ainda tem sérios problemas. Dos 6.846 milhões empregados pelo segmento, 23,9% recebem entre um e três salários-mínimos. Além disso, 1,3% desse total é de analfabetos (mais que a média nacional) e quase um terço deles não concluiu o ensino fundamental - numa área que se moderniza a passos largos.

Enquanto o segmento reduziu em 30% o analfabetismo entre 2001 e 2003, no comércio houve uma redução de 50% e no setor de serviços, de 40%. As trabalhadoras são mais escolarizadas que seu pares masculinos (eles são mais de 60% da força de trabalho formal), mas isso não se traduz em renda: 68,6% das mulheres recebem até três mínimos, contra 61,4% dos homens.

Inclui quadro: Saiba mais sobre o estudo [perfil do trabalhador com carteira assinada]