Título: SUPERÁVIT DO BRASIL COM OS CHINESES CAI PELA METADE
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 05/10/2005, Economia, p. 26

Importações já cresceram 47,4% de janeiro a agosto

BRASÍLIA. Enquanto os governos do Brasil e da China negociam, sem sucesso, acordos setoriais de restrição voluntária de exportações para o mercado brasileiro, as importações de produtos chineses continuam crescendo de vento em popa. Dados atualizados para o GLOBO pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mostram que, por causa do aumento das compras daquele país, o superávit que o Brasil tinha com a China nos oito primeiros meses de 2004 despencou de US$1,625 bilhão para US$800 milhões no mesmo período de 2005.

As importações brasileiras de produtos chineses cresceram 47,4% em relação ao período de janeiro a agosto de 2004. Com isso, a participação na pauta aumentou de 5,7% para 6,9%. Do total de gastos, o grupo composto por dispositivos e componentes para telefonia foi o que mais pesou, sendo responsável por US$1,3 bilhão - o equivalente a 38,4% do total de itens importados.

Os dados reforçam o argumento de diversos setores empresariais a favor da aplicação de salvaguardas às importações chinesas - medida que depende da publicação de dois decretos que estão parados no Palácio do Planalto. Os maiores crescimentos nas compras de importados chineses foram produtos cerâmicos (1.538%) e pneumáticos (575%). No caso de têxteis, o incremento foi de 49,1%; no de calçados, de 59,2%; no de brinquedos, de 66,4%.

- Estamos realmente preocupados. Nem nós, nem os americanos, nem os europeus estamos conseguindo chegar a um acordo com os chineses - afirmou o coordenador da Coalizão Empresarial Brasileira e representante da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Oswaldo Douat.

Exportações brasileiras cresceram apenas 6,2%

Do lado das exportações, a venda de produtos brasileiros para a China cresceu 6,2% nos oito primeiros meses deste ano. A maior parte dos produtos exportados são itens básicos (66,9%). Os empresários pressionam o Ministério do Desenvolvimento pela adoção de quotas ou sobretaxas, mas há divergências no governo. A Câmara de Comércio Exterior (Camex) é a favor da medida, mas a equipe econômica e o vice-presidente, José Alencar, são contra o decreto no momento.

- Os decretos serão publicados, mas isso não significa que vamos impor salvaguardas imediatamente - disse o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho.

- O decreto deveria ter sido publicado quando a China entrou na OMC - reclamou o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil de Confecções, Josué Gomes da Silva, filho de Alencar.