Título: CAUTELA NA REAÇÃO ÀS NEGOCIAÇÕES UE-TURQUIA
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 05/10/2005, O Mundo, p. 32

Europeus dizem que entrada no bloco não é automática

BRUXELAS. Alívio e cautela. A maioria dos líderes europeus elogiou o resultado das quase 40 horas de reuniões para conseguir um acordo que permitisse que os 25 membros da União Européia aceitassem o início das negociações para a entrada da Turquia no bloco, na madrugada de ontem. Mas muitos preferiram adotar discursos em que afirmam que o país muçulmano, cujo território fica quase integralmente na Ásia, deve sofrer profundas mudanças antes de entrar na UE.

O presidente da Comissão Européia, o português José Manuel Durão Barroso, deixou claro que as discussões estão apenas começando:

- A Turquia deve ganhar os corações e as mentes dos cidadãos europeus. Serão eles que decidirão se a Turquia se tornará um membro. O ingresso (da Turquia), como para qualquer outro país, não está garantido nem é automático.

O presidente da França, Jacques Chirac, e o premier da Itália, Silvio Berlusconi, defenderam ontem as negociações, que podem durar mais de dez anos. Chirac disse, no entanto, que os turcos deverão promover uma "revolução cultural maiúscula."

- Não sei se poderão fazer isso. Desejo isso, mas não estou seguro - disse Chirac.

Mas importantes personalidades políticas européias lamentaram a decisão. O ex-presidente francês Valery Giscard d'Estaing, o principal arquiteto da idéia de uma Constituição para a UE, disse temer pelo futuro do bloco.

- Em lugar do grande projeto de união política da Europa haverá agora uma grande zona de livre comércio - disse ele. - Neste ano terá se rechaçado a reforma das instituições da UE, e terá sido aceito, sem que haja uma Constituição ou um orçamento, a entrada do maior e mais pobre país (do bloco), que está situado fora do continente europeu.

Na Turquia, os jornais comemoraram o início das negociações, com manchetes como "Uma nova Europa, uma nova Turquia" e "A jornada começou". O governo também festejou.

- Ser membro da UE é tornar a Turquia uma sociedade de democracia, liberdade e justiça - disse o premier turco, Tayyip Erdogan.

Mas a oposição turca permanece desconfiada tanto da validade da entrada do país na UE quanto da viabilidade de se conseguir isso. A Turquia deve adotar 80 mil páginas de legislação comum da UE, divididas em 35 capítulos. O primeiro passo será reconhecer Chipre até o ano que vem.