Título: BISPOS DEBATEM COMUNHÃO A QUEM APÓIA ABORTO
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Fonte: O Globo, 05/10/2005, O Mundo, p. 34

Papel de políticos católicos é discutido em sínodo, em Roma. Posição contra eucaristia para divorciados gera polêmica

CIDADE DO VATICANO. O novo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o ex-arcebispo de São Francisco William Joseph Levada, pediu aos cerca aos 241 bispos reunidos em Roma que discutam se deve ser permitida a comunhão a políticos que apóiam o direito ao aborto. O papel dos políticos católicos é um dos pontos debatidos no sínodo dos bispos, cujo documento de base para discussão diz que seria pecado votar em quem apóia atos contra a vida.

- Gostaria de discutir sobre servidores públicos, os políticos, que podem não apoiar ou não votar completamente a favor dos ensinamentos da Igreja e que recebem a comunhão - disse Levada, segundo o padre John Bartunek, que assistiu à reunião a portas fechadas.

A declaração de Levada - que sucedeu Joseph Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, na Congregação - foi feita na noite de segunda-feira durante uma rodada de intervenções livres.

Alguns católicos dizem que pessoalmente se opõem ao aborto, mas vêem-se obrigados a apoiar o direito à interrupção da gravidez em países em que isso é permitido. O documento de discussão do sínodo, no entanto, critica essa postura:

"Alguns recebem a comunhão enquanto negam os ensinamentos da Igreja ou apoiam publicamente escolhas imorais, como o aborto", diz o texto. E acrescenta: "Alguns católicos não compreendem que pode ser um pecado apoiar quem é abertamente a favor do aborto e de outros graves atos contra a vida."

Mais cedo, os 241 bispos já tinham ouvido do patriarca de Veneza e relator oficial da reunião, cardeal Angelo Scola, os sinais de endurecimento do novo pontificado. Scola se pronunciou contra a ordenação de homens casados e a comunhão a divorciados que voltem a se casar, e defendeu uma restrição a comunhão entre cristãos de diferentes confissões - questões que devem ser aprofundadas nas próximas sessões.

A reação não demorou. O grupo laico Nós Somos a Igreja pediu ao Vaticano que repense as regras de celibato e permita a ordenação de mulheres se deseja combater a escassez de padres. O movimento, que surgiu em 1995, na Áustria, fez o apelo numa carta aberta aos bispos. "Esperamos que esta grande oportunidade não seja perdida", diz o texto.

Aberto no domingo, o sínodo deve durar três semanas e tem como tema a eucaristia. Embora os sínodos tenham sido criados para que os bispos ajudem o Papa a guiar a Igreja, as atenções deste se concentram sobre Bento XVI e os rumos da Igreja em seu pontificado. É a primeira reunião importante desde que foi eleito em 19 de abril, e as mudanças que introduziu, como as intervenções livres, indicam que deseja incentivar o intercâmbio de idéias.