Título: Pressão esfria a pizza
Autor: Maria Lima, Evandro Éboli e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 06/10/2005, O País, p. 3

Corregedoria desiste de poupar quatro deputados e recomenda processo contra 16 acusados

Apressão da opinião pública nos últimos dias levou os integrantes da Comissão de Sindicância da Corregedoria da Câmara e o relator, Robson Tuma (PFL-SP), a recuarem da disposição anteriormente anunciada de encaminhar à Mesa a recomendação de arquivamento dos processos de quatro dos 16 deputados envolvidos no escândalo do mensalão. Mesmo pressionada pelos acusados, que fizeram romaria ontem ao gabinete da Corregedoria, a comissão aprovou, por três votos a dois, o relatório afirmando que os 16 quebraram o decoro parlamentar e devem responder a processos no Conselho de Ética para possível perda de mandato. Caberá aos sete integrantes da Mesa Diretora a confirmação ou não do relatório.

No relatório há a ressalva de que não devem ser feitas novas representações contra José Dirceu (PT-SP), Sandro Mabel (PL-GO) e Romeu Queiroz (PTB-MG), já processados no Conselho de Ética. Também foram considerados prejudicados os casos de Roberto Jefferson, já cassado, Valdemar Costa Neto (PL-SP) e Bispo Rodrigues (PL-RJ), que renunciaram. Os três constavam da lista inicial das CPIs dos Correios e do Mensalão enviada à Corregedoria há mais de um mês.

A decisão de livrar algum deputado da lista de cassação cabe agora à Mesa, que se reúne hoje mas só vota o relatório na terça-feira. A Mesa pode mudar tudo no documento. Desde fazer processos separados a votar pelo arquivamento dos casos que considerar sem provas suficientes. Mas a tendência é que acolha a recomendação de mandar tudo ao Conselho, deixando para o presidente Ricardo Izar (PTB-SP) e seus integrantes a tarefa de filtrar a lista dos cassáveis.

Sobre a decisão de excluir Dirceu, Mabel e Romeu Queiroz, o relator Robson Tuma justificou que foi para evitar que os parlamentares ganhassem tempo no Conselho de Ética: ¿... Pelo que se verifica já se encontram em estágio bem adiantado (os processos). Enviar novas representações com o mesmo objeto das já existentes pode provocar a devolução de prazos naquelas representações e retardar o rito do processo disciplinar¿, diz o texto.

Os deputados Odair Cunha (PT- MG) e Mussa Demes (PFL-PI), integrantes da comissão de sindicância, foram votos vencidos na briga para salvar desde já quatro deputados. Na discussão do relatório eles tentaram excluir Professor Luizinho (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT), Vanderval Santos (PL-SP) e Vadão Gomes (PP-SP).

¿ É uma injustiça. Se não há provas suficientes, não tem que ir para o Conselho. Eu discordo do relatório ¿ disse Odair Cunha.

O voto de Givaldo Carimbão (PSB-AL) levou ao empate, e Ciro Nogueira (PP-PI), com voto de minerva, desempatou a favor do relator.

¿ Eu votaria com o Mussa e o Odair, mas se livrássemos alguém agora o país iria passar 500 anos sem ter esse relatório. Se puxássemos muito, a corda pipocava e não ia ser bom para o Brasil. Esse foi o meio-termo. Se a Mesa assim entender, que mande ¿ disse Carimbão.

Tuma não admite que houve recuo e que lavaram as mãos deixando a bomba estourar no colo dos integrantes da Mesa.

¿ Foi uma maneira elegante de encaminhar à Mesa. A sugestão é clara de representar e declarar a perda de mandato. Não dava para dizer se um mentiu e o outro não ¿ disse Tuma.

Deputados tentam tirar nome da lista

Membro da Mesa, o quarto secretário João Caldas (PL-AL) avisa que não terá dificuldades de votar analisando caso a caso.

¿ Mas antes quero saber a posição do presidente Aldo Rebelo ¿ ironizou.

Mussa Demes, inconformado, avisou que fará declaração de voto em separado:

¿ Estaremos pondo na mesma situação todos os 16, embora o mesmo relatório aponte que alguns não têm culpabilidade comprovada.

Enquanto os integrantes da Corregedoria finalizavam o relatório, vários deputados, a pretexto de completar as defesas, passaram por lá para tentar tirar o nome da lista. Entre eles, João Paulo Cunha (PT-SP), José Mentor (PT-SP), Vadão Gomes e Pedro Corrêa.

¿ Tem de ter relatórios separados, cada caso é um caso ¿ argumentava João Paulo.

¿ É natural, estão com a espada sobre as cabeças ¿ reagiu Ciro Nogueira.