Título: Planejamento: há espaço para crescer
Autor: Regina Alvarez, Enio Vieira e Martha Beck
Fonte: O Globo, 05/11/2004, Economia, p. 28

Economistas de fora do governo, convidados pelo Ministério do Planejamento para discutir as perspectivas da economia brasileira, consideram que há espaço para um crescimento acima do patamar atual, de 3,5% a 4%, desde que se aumente a taxa de investimentos em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) com medidas pontuais que teriam efeito já em 2005. O diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida, propõe a redução dos custos do investimento em setores industriais que têm gargalos na capacidade instalada, com medidas de desoneração tributária. E a destinação de uma parcela do superávit primário para investimentos na área de infra-estrutura.

O governo anunciou um pacote de medidas para desonerar os investimentos na industria de base, mas, segundo o diretor do Iedi, elas foram insuficientes. Os economistas concordam também que o governo precisa investir mais em infra-estrutura para garantir o crescimento sustentado.

¿ O governo poderia manter o superávit em 4,25% do PIB em 2005 e destinar 0,25% para reforçar a infra-estrutura ¿ sugeriu o diretor do Iedi.

Barros de Castro duvida de esgotamento da capacidade

O debate no Ministério do Planejamento foi articulado a partir de um estudo do economista Antonio Barros de Castro, assessor especial do ministro Guido Mantega, sobre o crescimento sustentado. Castro citou o Chile como exemplo de país bem-sucedido na estratégia de retomada do crescimento sustentado, lembrando que lá a taxa de investimentos pulou de cerca de 15% do PIB para algo em torno de 25%. O Brasil se mantém há vários anos com uma taxa em torno de 18% do PIB.

Castro lançou dúvidas sobre indicadores de esgotamento da capacidade instalada de alguns setores da indústria, apontado como freio à expansão do crescimento. Ele acha que os dados não são precisos e que existe uma margem na capacidade dos setores industriais que não aparece nessas pesquisas.

O diretor do Iedi reforçou essa avaliação, lembrando que é muito difícil medir a capacidade produtiva. As previsões seriam confiáveis apenas nos setores de produção contínua, como os siderúrgicos, de papel e celulose, entre outros.

¿ O setor de bens de consumo é muito mais elástico ¿ disse o economista.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Antônio Corrêa de Lacerda, não existe uma explosão de demanda e, assim, há espaço na economia para um crescimento acima do patamar entre 3,5% e 4% sem inflação.

Técnico do FMI elogia política econômica do país

O chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI), Charles Collyns, elogiou o desempenho da economia brasileira, depois de se reunir, ontem à tarde, com o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. Mesmo com a tendência de alta da taxa de juros, Collyns afirmou que o BC conduz os juros de forma correta para atingir as metas de inflação.

¿ O Brasil continua conduzindo uma política monetária apropriadamente prudente ¿ disse Collyns.

Ele ressaltou que o PIB está crescendo fortemente. E observou que as previsões apontam um crescimento de 4,5% este ano. A missão está em Brasília desde ontem, onde prepara a nona revisão do acordo de ajuda financeira ao Brasil.