Título: CNI: INDICADORES DA INDÚSTRIA DERAM SINAIS DE DESAQUECIMENTO EM AGOSTO
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 06/10/2005, Economia, p. 24

Faturamento recuou 1,08% frente a julho. Contratações subiram só 0,05%

BRASÍLIA. O comportamento dos principais indicadores de produção pesquisados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em agosto mostrou que o setor pôs o pé no freio no terceiro trimestre deste ano, apesar de a maior parte dos itens ter apresentado resultados muito positivos em relação a 2004. As vendas reais e o número de horas trabalhadas recuaram na comparação com julho. Já o mercado de trabalho mostrou acomodação. Para a CNI, a valorização de 21,4% do real frente ao dólar e o aperto nos juros nos últimos 12 meses motivaram o desaquecimento.

- A indústria se ressente de juros altos, valorização do real e menor expansão do crédito. O empréstimo com desconto em folha ainda cresce, mas em ritmo menor - afirmou o economista Flávio Castello Branco, coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI.

Uso da capacidade instalada em 82,9% é bom sinal

O faturamento recuou 1,08% em relação a julho, na segunda queda consecutiva. O indicador foi o único que também teve desempenho negativo na comparação com agosto de 2004: 0,67%. As vendas têm histórico fraco este ano. Desde janeiro, acumulam alta de apenas 1,84%. A hipótese de arrefecimento é reforçada pela redução de 0,32% nas horas trabalhadas no chão das fábricas.

O primeiro item é conseqüência direta do real forte, que afeta as receitas das exportadoras. O segundo é fruto do pessimismo quanto ao custo de investir, em razão da manutenção dos juros altos até o fim de setembro.

O mercado de trabalho ficou praticamente parado, com alta de apenas 0,05% no nível de contratações em agosto frente a julho. Em relação ao mesmo mês de 2004, houve aumento de 3,01% e no acumulado do ano, de 5,56%. Os salários subiram 0,25% em relação a julho e 8,25% sobre agosto de 2004. Mas isso reflete não o dinamismo do setor industrial, mas o aumento do poder de compra devido às deflações dos índices de preços, adverte a CNI.

Uma boa notícia garimpada pelos economistas da entidade foi a maturação dos investimentos do ano passado. O nível de utilização da capacidade instalada atingiu 82,9% em agosto, mesmo com aumento de 4,77% nas horas trabalhadas em 12 meses. Ou seja, a indústria ampliou sua linha de produção para atender à demanda. Isso significa que, se o apetite dos consumidores crescer, a indústria poderá entregar as encomendas sem haver pressão sobre os preços. O Banco Central usa esse indicador para estabelecer os juros básicos da economia, hoje em 19,5% ao ano. Por isso, a CNI não vê um cenário tão pessimista:

- No fim do ano passado, a grande preocupação era se as indústrias conseguiriam atender à demanda - disse Paulo Mol, economista da CNI. - Além disso, a massa salarial real aumentou pelo sexto mês consecutivo.

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