Título: Mesa joga para Aldo responsabilidade sobre destino de deputados cassáveis
Autor: Maria Lima/Isabel Braga
Fonte: O Globo, 07/10/2005, O País, p. 4

'Será o primeiro teste de fogo para ele', diz Nonô, primeiro-vice da Câmara

BRASÍLIA. Embora pelo menos três dos sete integrantes da Mesa da Câmara assumam ser favoráveis à possibilidade de que cinco deputados da lista de cassáveis sejam favorecidos com o arquivamento, a tendência é que o relatório da Corregedoria, propondo processos contra 16 deputados, seja aprovado e enviado ao Conselho de Ética na terça-feira. Os integrantes da Mesa, porém, querem dividir a responsabilidade com o presidente da Casa, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), exigindo dele uma posição clara sobre os processos.

Os companheiros de Mesa de Aldo dizem que, qualquer que seja a decisão, será debitada na conta do presidente da Câmara, a quem caberá orientar a decisão de mandar tudo para o Conselho ou retirar nomes. Na mira da oposição, que o acusa de ter sido eleito com o apoio dos envolvidos no escândalo do mensalão, Aldo despachou os processos entregues pelo corregedor Ciro Nogueira (PP-PI) para análise na assessoria jurídica.

A avaliação da maioria dos integrantes da Mesa é de que Aldo não enfrentará o desgaste de não enviar os processos contra os 13 deputados. Mas o primeiro vice-presidente, José Thomaz Nonô (PFL-AL), vai propor a ida de todos ao Conselho:

- O lugar onde os deputados devem exercer o direito de defesa é o Conselho. Será o primeiro teste de fogo para Aldo.

Corregedor quer critérios para análise de casos

Já Ciro, que também é o segundo vice-presidente da Mesa, diz que, se a Mesa entender que é preciso analisar caso a caso, pretende propor que isso seja feito com base em critérios claros e não na amizade.

- Proponho o envio de todos. Se for decidido de forma diferente, é preciso adotar um critério: se tirar um deputado porque não fez saque, tem que tirar todos na mesma situação.

O primeiro-secretário, Inocêncio Oliveira (PL-PE), transferiu a responsabilidade para Aldo. O terceiro-secretário, Eduardo Gomes (PSDB-TO), vê diferenciação, mas diz que seguirá a orientação partidária.

- Tudo vai depender da condução de Aldo. Se ele disser que vão todos os processos, nem se abre a discussão individual.

O quarto-secretário, João Caldas (PL-AL), propõe que a Mesa assuma o risco de fazer a análise caso a caso. E vai cobrar a posição de Aldo:

- Vou sugerir que todos formem juízo, quem vai julgar mandato tem que ter isenção. Aldo terá que falar.

Para o segundo-secretário, Nilton Capixaba (PTB-RO), no entanto, Aldo irá presidir a reunião, mas sem se posicionar antecipadamente:

- Ele não é imprudente, é o presidente, não deve interferir.

Aldo disse que a Mesa irá se ater às suas atribuições:

- Não devo, por espírito de equilíbrio e respeito aos demais integrantes, antecipar a decisão da Mesa. Tudo será analisado com rigor, justiça e equilíbrio.

Os integrantes da Mesa têm sido bombardeados com telefonemas dos 13 deputados que estão no relatório e ainda não têm representação no Conselho. Entre os mais angustiados estão Vadão Gomes (PP-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Professor Luizinho (PT-SP).

Aldo pode não presidir sessão relativa a Dirceu

Aldo admitiu a possibilidade de não presidir a sessão de cassação de José Dirceu (PT-SP), se o processo que corre contra ele no Conselho de Ética chegar ao plenário. Ele é testemunha de defesa do ex-ministro no processo.

- Estou admitindo o que o regimento determina: posso presidir ou não posso presidir qualquer sessão da Câmara - afirmou o deputado.

O relator do processo contra Dirceu no Conselho, Júlio Delgado (PPS-MG), deve apresentar seu parecer na penúltima semana de outubro.