Título: Irmão de Daniel acusa assessor de Lula
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 07/10/2005, O País, p. 8

Segundo ele, chefe de gabinete de Lula teria admitido existência de esquema de arrecadação

BRASÍLIA. Irmão caçula do prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado em 2002, o professor Bruno Daniel atacou ontem o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, como já havia feito seu outro irmão, João Francisco. Em depoimento à CPI dos Bingos no Senado, Bruno confirmou ter ouvido de Carvalho uma confissão de que havia na prefeitura de Santo André um esquema de arrecadação ilegal de dinheiro para campanhas do PT. Carvalho nega. Os três ficarão frente a frente em acareação marcada para o dia 26.

Segundo Bruno, a revelação foi feita por Carvalho no apartamento de João Francisco, em São Bernardo do Campo, após a missa de sétimo dia de Daniel. Ele disse acreditar que o irmão foi morto como "queima de arquivo" por ter descoberto que o dinheiro sendo desviado por petistas. E chamou Carvalho, seu ex-amigo, de mentiroso:

- Ele (Carvalho) não tem falado a verdade sobre o esquema de arrecadação de recursos.

Extorsão contra empresários

Bruno entregou à CPI um documento do Ministério Público de São Paulo com denúncias de dois empresários de ônibus de Santo André que dizem ter sido extorquidos em mais de R$2 milhões por Sergio Gomes da Silva, o Sombra, que estava com o prefeito no momento em que Daniel foi seqüestrado.

- Os empresários eram extorquidos de forma acintosa. O Sérgio chegava para conversar com eles e botava uma arma na mesa - disse Bruno.

Bruno disse ter ouvido de Carvalho que, numa ocasião, o dinheiro foi entregue por ele ao então presidente do PT, José Dirceu, para abastecer o caixa do partido:

- Ele contou que numa operação repassou R$1,2 milhão a Dirceu. Disse que a tarefa teve momentos de tensão porque carregava o dinheiro sozinho em seu Corsa, sem segurança.

Os senadores consideraram o relato de Bruno contundente, já que o próprio Carvalho, em seu depoimento, afirmara que o professor merecia credibilidade. Além disso, em momento algum, Bruno isentou Daniel de responsabilidade no suposto esquema de corrupção:

- Foi montado um esquema do qual ele (Daniel) sabia e que levou a acontecer (o crime). Suponho que ele encarava isso como um mal necessário.

Carvalho disse que as acusações de Bruno são infundadas:

- São falsas todas as acusações que têm-me sido dirigidas de maneira orquestrada - disse ele, por meio de assessores.

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Empresário diz que deu dinheiro ao PT

Dono de seguradora admite que fez doações para outros seis partidos

BRASÍLIA. O empresário André Marques da Silva, dono da seguradora Interbrazil, acusada de ter se beneficiado com contratos de estatais obtidos com auxílio de petistas, confessou ontem, em depoimento à CPI dos Correios, ter feito doações a sete partidos, inclusive o PT, na campanha de 2004. Ele teria contribuído com bandeiras e material gráfico para candidatos de PSDB, PFL, PSC, PL, PSB e PMDB. O empresário negou ter feito doações em dinheiro e assegurou que não participou das campanhas de 2002.

Silva alegou que os recursos chegaram a candidatos de Goiás, São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná. Mas disse que não se lembrava dos valores ou de quem foi beneficiado. Ficou de enviar a lista à CPI em breve.

- Nenhuma empresa faz doação para tantos partidos diferentes e tantos candidatos em tantos estados sem se lembrar de nomes e valores. É evidente que o empresário que age dessa forma espera obter vantagens do poder público - disse o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA).

As informações fornecidas por Silva não correspondem às prestações de contas dos partidos à Justiça Eleitoral. Segundo o TSE, a seguradora doou R$ 275 a Francisco Lira, candidato a vereador em Manaus pelo PFL. Em, em 2002, contribuiu com R$3 mil para a candidatura do senador Romeu Tuma (PFL-SP).

Também em depoimento, o ex-presidente do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) Lídio Duarte negou que o órgão tenha repassado dinheiro a partidos. Lídio, porém, confirmou que o deputado cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ) pediu contribuição para a campanha de 2004.

Dantas: mandado de segurança

BRASÍLIA. O presidente do Grupo Opportunity, Daniel Dantas, entrou ontem com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo que não seja entregue às CPIs dos Correios e do Mensalão o material apreendido pela Polícia Federal na sede do Opportunity Fund. As CPIs solicitaram a análise do disco rígido de um computador e da lista de cotistas da instituição nas Ilhas Cayman.

Dantas é suspeito de ser um dos responsáveis pelos recursos que abasteceram as contas de Marcos Valério, usadas para repasses a políticos petistas e de partidos aliados do governo. Há duas semanas, Dantas prestou depoimento às CPIs dos Correios e do Mensalão e ontem negou ter dado dinheiro ao esquema. O Opportunity é sócio de fundos de pensão de estatais (como Previ, Petros e Funcef) e do Citibank na BrT, na Telemig Celular e na Amazônia Celular, entre outras empresas.

A defesa de Dantas argumenta que os requerimentos aprovados extrapolam as atribuições das CPIs, que devem apurar "fato determinado e por prazo certo", de acordo com o artigo 58 da Constituição. O advogado do empresário alega que "os requerimentos teriam que ser motivados, guardando relação direta com os fatos determinados sob investigação, o que não ocorreu na espécie".

A ministra Ellen Gracie Northfleet foi sorteada relatora do pedido.

Legenda da foto: BRUNO DANIEL, ao lado do senador Efraim Morais: "Os empresários eram extorquidos de forma acintosa"