Título: SECRETÁRIO-GERAL DA CNBB DIZ QUE ESPERA QUE 'ESSA MODA NÃO PEGUE'
Autor: Letícia Lins
Fonte: O Globo, 07/10/2005, O País, p. 9

Dom Odilo afirma que greve de fome foi decidida de forma isolada

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Odilo Scherer, disse ontem que a Igreja Católica não condena a greve de fome, mas não aprovou o gesto extremo do dispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, que prometeu manter o jejum até a morte, caso não fosse atendido.

- Sinceramente, espero que essa moda não pegue - afirmou Dom Odilo.

Dom Odilo afirmou que a atitude de dom Luiz pegou de surpresa a Igreja e foi decidida de forma isolada. Mas, segundo ele, é possível tirar uma lição positiva do protesto, como a maior divulgação do projeto de transposição das águas do rio São Francisco e a retomada do debate da questão.

Ele explicou que na Igreja Católica o jejum pode ser feito por vários motivos, inclusive como pressão por causas consideradas nobres. O bispo disse que, no caso de dom Flávio, o complicador foi a afirmação pública de que levaria a greve de fome até a morte:

- A Igreja diz que não é eticamente aceitável a pretensão de greve de fome até morrer se não for atendido.

CPT critica divisão do episcopado brasileiro

Em resposta às críticas do arcebispo da Paraíba, dom Aldo di Cillo Pagotto, de que a greve de fome do bispo de Barra (BA), dom Luís Flávio Cappio, era um "uma atitude isolada", a Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou ontem nota de esclarecimento em que critica "o nefasto objetivo de dividir o episcopado brasileiro". A CPT afirmou que as críticas de dom Aldo são "a forma mais eficaz de colaborar com as empreiteiras e com o grande capital que estão de olho nesta obra gigantesca".

A nota da CPT, assinada pelo seu presidente, dom Tomás Balduíno, que na terça-feira afirmara que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria o responsável se dom Luiz Flávio morresse, afirma ainda que "a leitura que dom Aldo faz do gesto de dom Luiz como uma 'espécie de eutanásia' é cruel e irônica sobre o momento mais sagrado e mais sublime da vida deste bom Pastor. Dom Luiz não se cansa de dizer que não quer morrer, quer viver e quer a vida do povo do semi-árido e do São Francisco".