Título: MST e UDR divididos também no desarmamento
Autor: Adauri Antunes Barbosa e Chico Oliveira
Fonte: O Globo, 07/10/2005, O País, p. 11

Sem-terra irão votar sim e ruralistas, não, no referendo; fazendeiros dizem que terão armas mesmo clandestinas

SÃO PAULO e PORTO ALEGRE. Entidades de interesses contrários, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a União Democrática Ruralista (UDR) também estão opostas no referendo sobre a proibição do comércio de armas. O MST defende o voto no sim e a UDR, no não.

- Quem deve estar dando risada com a possibilidade de dar "sim "nesse referendo é o (João Pedro) Stédile (coordenador nacional do MST). Com a proibição de armas no Brasil ele vai poder invadir as terras que quiser com a maior tranqüilidade - previu o fazendeiro Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente da UDR.

A direção nacional do MST afirma que a arma da entidade "é o livro, o conhecimento", e diz que a proibição diminuiria a violência rural. "São os pobres do campo, população a qual nos mobilizamos para organizar, um dos principais alvos da violência gerada pelas armas de fogo", disse a direção, em nota oficial.

O líder sem-terra José Rainha já foi condenado pelo porte de arma a dois anos e oito meses de prisão, em 30 de julho de 2003, acusado de portar uma espingarda durante a ocupação da fazenda Santa Maria em Teodoro Sampaio, no Pontal do Paranapanema, interior de São Paulo.

José Rainha, que cumpriu parte da pena antes da sentença do juiz Átis Araújo de Oliveira, de Teodoro Sampaio, ter sido anulada, negou durante todo o processo que a arma fosse sua.

A UDR já foi acusada de armar milícias privadas para proteger fazendas. Em audiência da CPI da Reforma Agrária e Urbana em Presidente Prudente, no Pontal, em março, o deputado João Alfredo (PT-CE) leu trechos do depoimento do fazendeiro Manoel Domingues Paes Neto que apontou a UDR como uma das responsáveis pelo armamento dos proprietários rurais. Preso em 2003, Manoel Domingues tinha em sua fazenda um arsenal de armas de uso restrito das Forças Armadas.

Vereador pelo PP e presidente do Sindicato Rural de Santana do Livramento, César Maciel diz que se for aprovada a proibição, os fazendeiros da região continuarão mantendo armas, mesmo na clandestinidade.

- Se necessário, teremos que partir para a clandestinidade, porque não há atuação da autoridade que possa coibir o que estamos enfrentando.

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