Título: Dólar barato, corrida para férias
Autor: Érica Ribeiro
Fonte: O Globo, 07/10/2005, Economia, p. 21

Turistas antecipam compra de pacotes internacionais e já há viagens esgotadas

O dólar barato está estimulando o brasileiro a antecipar a compra de pacotes de viagens para passar as férias de verão no exterior. Para algumas datas, já não há pacotes disponíveis. Levantamento da Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav) do Rio de Janeiro aponta aumento no volume de vendas de 30% a 40% em relação a 2004. Depois de bater a cotação de R$2,213 no último dia 29 - a menor desde maio de 2001 - ontem a moeda americana fechou em alta, a R$2,292. E talvez seja mesmo boa idéia aproveitar agora: o governo sinalizou que pode continuar comprando dólares no mercado, o que faria a cotação subir.

- Em 2004, o dólar estava na casa dos R$3,30 e isso limitou o poder de compra do brasileiro. Hoje, ainda que o dólar até o fim do ano vá a R$2,50, o consumidor ainda consegue absorver com facilidade e investir em uma viagem internacional - afirmou Carlos Alberto Ferreira, presidente da Abav/Rio.

Disney é um dos destinos preferidos

Segundo Ferreira, os destinos mais procurados pelos brasileiros para viagens internacionais no período de dezembro de 2005 a março do ano que vem são os EUA (principalmente Disneyworld, Miami e Nova York), além de Argentina, Chile e alguns países da Europa, como Londres e Paris. Os cruzeiros dentro e fora do país também estão entre os preferidos.

- A Disney tem sido um destino muito procurado pelas famílias, que podem se hospedar em hotéis com estrutura para abrigar quatro pessoas em um quarto, a preços a partir de US$1 mil por pessoa. É um destino barato. Já os cruzeiros pela costa brasileira ou mesmo os internacionais estão cada vez mais despertando o interesse. Antes, era uma experiência inacessível, mas hoje já é possível viajar em um cruzeiro a partir de US$500, com parcelamento em cinco vezes - diz Ferreira.

A professora Angela Macedo escolheu uma viagem de navio para aproveitar as férias em fevereiro. O pacote inclui vôo até Miami, com hospedagem de uma noite e, em seguida, embarque em um navio com destino ao Caribe:

- O pacote custou US$1.200 fora as taxas e ainda pude parcelar tudo. Resolvi fechar negócio logo porque não quero me arriscar a ter que pagar mais caro no fim do ano, se o dólar subir.

Consumidores como Angela resolveram antecipar a compra de pacotes de viagem pelo temor de uma possível alta do dólar, contrariando a máxima de que brasileiro deixa tudo para a última hora. O diretor da área Internacional da operadora de turismo CVC, Michael Barcoksky, já constatou em números o aumento nas vendas:

- A CVC já vendeu este mês pacotes internacionais para 7.562 pessoas, enquanto em outubro de 2004 vendemos pacotes para 3.252 passageiros. Isso significa uma procura superior a 50% em um período tão curto, já que só agora começamos as vendas destes pacotes. O dólar ajudou bastante, já que o câmbio barato significa um desconto de 30% no valor da viagem para o consumidor final, em relação a 2004.

Segundo Barcoksky, além do câmbio mais favorável, o parcelamento dos pacotes é mais um atrativo.

- O passageiro paga em reais, na cotação do dia em que deu a entrada no pacote, e o parcelamento não sofre mais qualquer reajuste até a última prestação. Este é também mais um motivo para o aumento na procura. Ninguém quer correr o risco de esperar o décimo-terceiro salário e o fim do ano para fechar uma viagem e, até lá, o dólar aumentar - completa o diretor da CVC.

O gerente de Marketing e Produtos da operadora Marsans, Paulo Pimentel, iniciou há cerca de duas semanas a divulgação de pacotes para as férias de verão e já percebeu o aumento nas consultas e reservas de roteiros internacionais. Segundo ele, em algumas datas de janeiro os pacotes para a Disneyworld já estão esgotados. Um pacote para a Disneyworld pela operadora, com seis noites, passagem, hospedagem e ingressos para alguns parques está à venda a partir de US$1.550.

Gol volta ao segundo lugar em vôos locais

A Varig reduziu em setembro sua participação de mercado, segundo dados divulgados ontem pelo Departamento de Aviação Civil (DAC), e perdeu o segundo lugar no ranking para a Gol. Nos vôos domésticos, a Varig registrou 25,40% de participação, contra 26,52% em agosto. A redução da frota da companhia, hoje com 63 aviões em operação e 14 parados, influenciou, segundo analistas.

A Gol, que já havia sido a segunda colocada no primeiro semestre, teve participação de 28,80% em setembro. A empresa registrara, em agosto, 26,12%. A TAM continua na liderança, com 43,20%, praticamente o mesmo percentual do mês anterior, quando a participação foi de 44,30%.

No mercado internacional, Varig e TAM reduziram sua participação em setembro. A Varig teve 77,05% contra 77,67% em agosto. Em setembro de 2004, estava com 86,14%. A TAM ficou com 20,53% do mercado no mês passado, contra 20,87% em agosto. Apenas a Gol ampliou a participação, de 1,43% em agosto para 2,38% em setembro, mas ainda está distante das concorrentes.

As empresas do setor, segundo o DAC, transportaram em setembro 2,9 milhões de passageiros, um crescimento de 29,2% na comparação com o mesmo período de 2004. A taxa de ocupação dos aviões também subiu para 71% em média em setembro, contra 64% no mesmo mês do ano anterior.

Legenda da foto: A PROFESSORA Angela Macedo (direita) compra pacote para um cruzeiro no Caribe com hospedagem em Miami por US$1.200