Título: GOVERNO SINALIZA: COMPRA NO MERCADO DE CÂMBIO CONTINUA
Autor: Eliane Oliveira/Ênio Vieira/Geralda Doca
Fonte: O Globo, 07/10/2005, Economia, p. 21

Ministro da Fazenda e presidente do BC dizem que aquisição de moeda americana visa a reforçar reservas

BRASÍLIA. Após o Banco Central (BC) passar a semana comprando dólares no mercado, com apenas uma pausa ontem, o presidente da instituição, Henrique Meirelles, disse que não há limites para as aquisições. As compras, feitas tanto pelo BC quanto pelo Tesouro Nacional, têm como objetivo elevar as reservas e pagar a dívida externa, segundo Meirelles. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, também reforçou ontem que não há piso ou teto fixado pelo governo para o câmbio, que continuará flutuante.

Isso contraria as expectativas de ministros como Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Roberto Rodrigues (Agricultura).

- O Banco Central não tem meta para compras de reservas. Mas se atingir um nível e julgarmos adequado, será anunciado publicamente a posteriori um limite - disse Meirelles, em audiência no Congresso Nacional.

Meirelles citou o caso do México, que alcançou US$50 bilhões em reservas e em seguida estabeleceu que este seria o limite. Em contrapartida, disse o presidente do BC, a China tem reservas de US$700 bilhões e caminha para elevar o montante para US$1 trilhão. Meirelles contestou as análises de que os juros são responsáveis pela valorização do real:

- Dizem que a apreciação do real se deve aos juros atuais. Mas o que move e dá direção ao câmbio é o fator comercial, e não o financeiro.

Palocci, que participou de evento da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), disse que o câmbio flutuante tem sido importante para a redução da vulnerabilidade externa do Brasil:

- As ações do BC, que não são intervenção, não têm a ver com o nível do câmbio, mas com as reservas brasileiras. Nós não vamos interferir no nível do câmbio por dois motivos: não é uma boa política e nunca dá certo.

Palocci: 'Não podemos lutar contra a renda das famílias'

O ministro lembrou que o Brasil fez um dos maiores ajustes da economia mundial no campo externo quando tinha um déficit de 5% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de riquezas do país) em transações correntes. Hoje, tem superávit próximo de 2% do PIB.

Palocci disse ainda que o governo não vai tentar elevar o câmbio a um valor que possa agradar a um ou outro setor, numa referência às queixas de exportadores:

- O câmbio, quando se desloca no sentido de apreciar a moeda do país, e é resultado de melhoria nos indicadores e fundamentos da economia, significa melhora da renda das famílias. Então, não podemos lutar contra a renda das famílias.

Para Furlan, porém, a análise não é de todo correta. Segundo o ministro do Desenvolvimento, não há dúvida de que o dólar desvalorizado desestimula as exportações. Mas ele negou que haja confronto com Palocci:

- Cada jogador da equipe de governo tem uma posição. A minha é de atacante, fazer gol, a do Palocci é de retaguarda. Eu e Palocci trabalhamos muito bem. Ele respeita a minha idade e eu respeito a competência dele.

INCLUI QUADRO: O COMPORTAMENTO DOS INDICADORES