Título: IMIGRANTES MOVIMENTAM US$2 TRI
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 07/10/2005, Economia, p. 22

Relatório revela que 200 milhões de pessoas vivem longe de seus países

WASHINGTON. Eles já são quase 200 milhões de pessoas em 70 países, sendo que 60% estão trabalhando em nações ricas. Todos os anos, remetem US$240 bilhões para as famílias em seus países de origem. E gastam pouco mais de US$2 trilhões nas regiões que os recebem, além de gerar à economia mundial uma fortuna ainda não calculada com precisão. Apesar disso, a maioria dos migrantes internacionais continua a ser discriminada, explorada e, muitas vezes, abusada nos países que os recebem e se beneficiam da mão-de-obra barata que lhes dá competitividade no mercado mundial.

O que mais se ouve são queixas e ameaças contra esse contingente de trabalhadores, cujo papel é cada dia mais importante: "Embora muitos países industrializados sejam cautelosos em reconhecer isso, a sua contínua prosperidade dependerá em parte da migração tradicional", diz um trecho do informe divulgado ontem pela Comissão Global de Migração Internacional (GCIM, na sigla em inglês), no Banco Mundial, na capital americana.

O documento recomenda, por um lado, que os países pobres e em desenvolvimento tomem providências para dar a seus cidadãos um padrão de vida decente e, assim, evitar que eles busquem a sorte em outras nações. Por outro, sugere aos países ricos a criação de programas temporários de migração, que protejam esses trabalhadores e lhes dêem chance de, um dia, voltar à pátria com aposentadoria garantida pelos anos de trabalho fora.

- Não se deve resistir ou fechar os olhos à globalização e, em conseqüência, à migração. Seus benefícios devem ser maximizados e os problemas, minimizados, para que ambos os lados lucrem com isso - disse ao GLOBO Jan Karlsson, ex-ministro de Migração e Desenvolvimento da Suécia, que co-presidiu o estudo.

A GCIM enfatizou a responsabilidade dos países ricos nesse processo, dizendo que seus governos devem reconhecer o impacto que as políticas têm sobre a dinâmica da migração internacional. Como exemplo citou as conseqüências que uma reforma comercial poderia ter no bem-estar dos que vivem nos países em desenvolvimento. Elas seriam bem mais benéficas que a ajuda financeira recebida por aquelas nações.

"Os países mais ricos gastam mais de US$300 bilhões por ano em subsídios agrícolas; mais de seis vezes o que gastam com a ajuda aos países pobres. Ao deprimir os preços dos produtos agrícolas, os subsídios tornam mais difícil para pequenos lavradores se manterem na terra e, portanto, contribuem para a migração das pessoas", diz outro trecho do documento.