Título: Infra-estrutura é prioridade na AL
Autor: flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 05/11/2004, Economia, p. 31

A carência de investimentos na área de infra-estrutura foi outro tema que mereceu a atenção dos 11 chefes de Estado da América Latina que se reuniram ontem no Rio. Já na sessão de abertura do encontro, os presidentes discutiram a necessidade de criação de um mecanismo para financiar obras de infra-estrutura na região, informou Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais. Não há consenso, entretanto, sobre o formato dessa espécie de agência latina de fomento.

¿ Alguns países têm sugerido uma espécie de BNDES de âmbito regional. Outros propõem que a Corporação Andina de Fomento (CAF) tenha este papel. Ainda não há uma definição muito específica sobre o tipo de estrutura, mas há uma consciência muito clara de que precisamos vitalmente construir uma grande infra-estrutura em matéria de estradas, de energia. Isso pode desempenhar pela integração sul-americana o que desempenhou na constituição européia a união em torno do carvão e do aço ¿ disse Garcia.

Tampouco ficou clara a origem dos recursos. Segundo o assessor da Presidência, uma das idéias é a exclusão dos gastos com infra-estrutura do cálculo do superávit primário, sugerida pelo presidente Lula ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Cada país apresentou dois projetos prioritários

As discussões sobre a formação deste órgão de financiamento regional ganhou corpo um ano atrás, durante uma reunião de cooperação entre a CAF e o BNDES. Cada país latino foi convidado a apresentar dois projetos prioritários de infra-estrutura que envolvessem mais de uma nação. O Brasil sugeriu o Anel Ferroviário de São Paulo e a construção de uma hidrelétrica de navegabilidade na fronteira com a Bolívia e o Peru.

Garcia frisou a importância do setor de infra-estrutura como ferramenta de integração latino-americana e citou as discussões que o país já desenvolve com os vizinhos, entre os quais a saída para o Oceano Pacífico.

De manhã, o ministro das Relações Exteriores do Peru, Manuel Rodríguez Cuadros, antecipara que o assunto será tema do encontro entre os presidentes Lula e Alejandro Toledo, hoje. O governo peruano defende a construção de uma rodovia ligando as cidades de Assis Brasil, no Acre, a Iñapari, no Peru, chegando aos portos de Ilo Y Matarani ou Marcola. A obra, orçada em US$ 700 milhões, seria financiada pela CAF e, provavelmente, pelo BNDES.

¿ Chegará à realidade a aspiração dos povos fronteiriços de uma confirmação física e concreta da aliança estratégica do Peru com o Brasil ¿ disse.

A integração latina foi tratada como prioridade pelos presidentes, mas não houve espaço para discussões relacionadas à criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Nem a reeleição do presidente americano George W. Bush na véspera do encontro no Rio fez a Alca ganhar espaço na agenda. Os países têm preferido negociar acordos bilaterais com os EUA, em vez de um pacote regional.

Por outro lado, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, deixou claro que, neste momento, a Alca não é a prioridade do governo. Segundo ele, fundamental para o país são as negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC). Para o ministro, o Brasil só vai conseguir o que quer (a eliminação dos subsídios e das grandes distorções do comércio internacional) na OMC. E afirmou que o país jamais teria uma vitória na Alca como no caso recente do algodão, com os EUA, ou como no episódio do açúcar, com a União Européia.

¿ A Alca é muito importante. Isso não quer dizer que a OMC não seja absolutamente prioritária. São duas coisas diferentes. Você, na tua vida, tem coisas prioritárias e outras coisas que são importantes, mas não são a prioridade primeira ¿ reiterou Amorim.