Título: INDÚSTRIA REAGE PUXADA POR MERCADO INTERNO
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 07/10/2005, Economia, p. 24

Avanço de 1,1% na produção em agosto sobre julho foi acima do esperado, mas deve desacelerar

A produção industrial do país surpreendeu em agosto. O aumento de 1,1% na comparação com julho - quando a produção recuou 1,9% - foi acima da expectativa de analistas. No ano, a produção acumula alta de 4,3% e, nos últimos 12 meses, 5,1%, informou ontem o IBGE. A expansão também mostrou perfil diferente: não veio só sustentada por exportações e crédito farto. A melhoria no mercado de trabalho fez a categoria de bens não-duráveis (roupas, remédios e alimentos) aumentar 1,6% frente julho. O setor é fortemente influenciado pelo comportamento do rendimento do trabalho, que está reagindo.

- Os bens não-duráveis, com os de capital (máquinas e equipamentos) vêm crescendo acima da média da indústria, numa reação do mercado interno - disse Silvio Sales, coordenador de Indústria do IBGE.

Andando para trás vieram os bens duráveis (móveis, automóveis e eletrodomésticos), que diminuíram a produção em 1,7%, após já ter reduzido 6,4% em julho. Mas Sales não arrisca a afirmar que houve mudança na tendência crescente verificada no último ano:

- São dois meses de queda, depois de altas expressivas em maio e junho.

Armando Castelar, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vê o recuo desse setor como sinal de desaceleração do crédito e reflexo do longo período de juros altos:

- A ação da política monetária é defasada. E o crédito vem crescendo num ritmo menor. O que é natural.

Produção deve crescer menos no 3º trimestre

Guilherme Maia, economista da Consultoria Tendências, vê a queda na confiança do consumidor como a responsável pelo recuo na produção de bens duráveis. Mas os dois economistas acreditam que o crescimento da produção no terceiro trimestre será menor que no segundo. Pelos dados do IBGE, essa avaliação se confirmará. Enquanto entre os meses de abril e junho a produção subiu 2% frente ao primeiro trimestre; entre julho e agosto, a alta se limitou a 0,3%.

- Consumo de energia e produção de automóveis caíram em setembro sobre agosto, indicando produção estável ou queda.

Castelar acredita que a produção volte a crescer com mais força em 2006. A conclusão vem dos números de bens de capital, que subiu 3,1% frente a julho. O economista destaca o desempenho da construção civil: a produção foi 36% maior:

- É sinal importante de recuperação maior em 2006.

Em relação a 2004, a indústria mostra alta expressiva. A produção subiu 3,8%, indicador que vem há dois anos em alta.

INCLUI QUADRO: O COMPORTAMENTO DO SETOR