Título: Morte de Arafat é anunciada e desmentida
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 05/11/2004, O Mundo, p. 38

A saúde do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Yasser Arafat, piorou muito ontem, fazendo com que sua morte chegasse a ser anunciada, provocando tensão no Oriente Médio, tristeza nas ruas dos territórios ocupados palestinos e comemoração de extremistas judeus. Porém, segundo a direção do hospital militar Percy, em Paris, onde ele está internado, Arafat não morreu.

¿ O presidente Arafat não teve um ataque cardíaco ou falência do coração. Ele ainda está vivo. Não está clinicamente morto. Não há morte cerebral, mas sua condição está se deteriorando ¿ afirmou o médico particular de Arafat, o jordaniano Ashraf al-Kurdi, ontem à noite.

O dia foi marcado por uma grande confusão. A morte de Arafat foi anunciada e desmentida várias vezes. Tudo começou à tarde, com reportagens da imprensa israelense. Até mesmo o presidente americano, George W. Bush, atropelou os acontecimentos ao ser perguntado por um jornalista como reagia à suposta morte de Arafat:

¿ Minha primeira reação é: Deus abençoe sua alma. Minha segunda reação é: iremos continuar a trabalhar para um Estado palestino livre que esteja em paz com Israel.

Governo de Israel mobiliza forças militares

Líderes palestinos se reuniram para analisar a situação. Ao mesmo tempo, Israel colocou suas forças de segurança em estado de alerta, temendo uma possível reação da população palestina.

A confusão aumentou quando o primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, anunciou a morte de Arafat. Depois, divulgou um comunicado desmentindo. Em meio ao boato geral, o presidente francês Jacques Chirac compareceu ao hospital pela primeira vez deste que Arafat foi internado, semana passada. E pessoas ligadas ao governo garantem que Chirac o viu vivo. O primeiro-ministro da ANP, Ahmed Qorei, também negou a morte de Arafat.

Para muitos, a morte de Arafat era uma questão de tempo. A imprensa francesa citou fontes médicas do hospital para garantir que a situação não tinha volta. Arafat, segundo as fontes, estava respirando com ajuda de aparelhos, ¿em coma muito profundo, de estágio 4¿. Ou seja, irreversível. Porém, um paciente em coma profundo pode ter sua vida mantida artificialmente.

Mas a ordem, aparentemente da mulher de Arafat, Suha, foi manter as aparências. No fim da tarde, quando rumores da morte do líder palestino circulavam, o general Christian Estripeau, chefe do serviço médico do Exército francês, leu um boletim em que dizia que Arafat não havia morrido. Limitou-se a descrever o quadro clínico como complexo:

¿ Ele foi transferido para um serviço adaptado à sua patologia ¿ disse, sem esclarecer se ele respirava com aparelhos.

A piora do estado de saúde do líder palestino provocou comoção na comunidade árabe francesa. Pessoas espalhavam velas pelo chão, juntamente com fotos de Arafat. Bandeiras palestinas foram coladas ao muro do hospital.

¿ O presidente Arafat não vai morrer, assim como Gandhi (líder pacifista indiano) não morreu nem Nasser (presidente egípcio e líder pan-arabista). A vela que seguro não é para um morto. É o símbolo que celebra o nascimento ¿ disse um tunisiano.

Para a palestina Noha Rashmawi, o fim de Arafat não passava de intriga dos israelenses.

¿ Ele está vivo. Eu sinto.