Título: AFASTADO O DELEGADO QUE APURAVA FURTO NA PF
Autor: Gustavo Goulart/Célia Costa/Antônio Werneck
Fonte: O Globo, 08/10/2005, Rio, p. 17

Policial teve crise de úlcera, mas afirma que está apto a continuar trabalhando. Procurador pede parecer médico

O delegado Marcos Cotrim, presidente do inquérito que investiga o furto dos R$2 milhões do interior da Superintendência da Polícia Federal no Rio, foi afastado ontem do caso. A decisão partiu da direção geral da Polícia Federal, em Brasília. Cotrim foi informado que não estaria mais à frente dos inquéritos pelo delegado Zulmar Pimentel, o segundo na hierarquia da PF no país. Surpreso, o procurador da República Gino Liccione, do Grupo de Controle Externo da Atividade Policial, do Ministério Público Federal no Rio, informou ontem vai pedir explicações à PF.

Anteontem, Cotrim passou mal e foi atendido no Hospital São Vicente de Paulo com crise de úlcera, mas ligou para o procurador contando que receberia alta médica em uma semana e que gostaria de permanecer à frente das investigações. Para Gino Liccione, o afastamento é mais um caso estranho na PF. O procurador enviou ontem ofício aos médicos do hospital pedindo um parecer sobre o estado de saúde do delegado Cotrim.

- O afastamento é estranho e mostra uma sucessão de fatos que nós estamos acompanhando. A todo momento a direção da PF mostra atitudes conflitantes. Vou procurar saber os motivos do seu afastamento já que ele disse que teria alta em uma semana - disse Gino Liccione.

Cotrim reagiu com indignação ao afastamento. Segundo o delegado, sua médica garantiu que ele poderia voltar ao trabalho na quinta-feira que vem. Em Brasília, a direção da PF afirmou que o delegado teve que ser afastado do caso por exigência médica e recebeu licença médica para ficar pelo menos 30 dias longe do trabalho.

- Acredito estar plenamente apto a retomar os trabalhos de investigação na quinta-feira que vem, conforme afirmou a própria médica que me atendeu. Fui designado para investigar o caso pelo diretor-geral da Polícia Federal (Paulo Lacerda) e, de acordo com as palavras do superintendente regional (José Milton Rodrigues), divulgadas pela imprensa, 95% das investigações já estão concluídas - disse o delegado.

Cotrim lamentou ter trabalhado 16 horas por dia e agora ter sido afastado. Ele comentou ainda achar estranho o fato de o inquérito sobre o duplo homicídio na Barra ter sido avocado pelo superintendente da PF no Rio e entregue a outro delegado:

- Por que não posso acumular dois inquéritos e, agora, que estou afastado, o mesmo delegado que recebeu a investigação sobre o duplo homicídio na Barra também recebeu a incumbência de investigar o furto dos R$2 milhões? Vou procurar saber os reais motivos para não poder voltar às investigações.

Como O GLOBO revelou ontem, Cotrim recebeu da Polícia Civil uma fita que mostraria dois policiais federais matando duas pessoas na Barra em março. As imagens foram feitas por um circuito de segurança de um centro empresarial.

Prorrogada a prisãode quatro agentes

O juiz Rodolfo Hartmann, da 2ª Vara Federal Criminal, prorrogou por mais cinco dias a prisão temporária dos quatro agentes acusados do roubo de um talão de cheques durante a operação numa rinha de galos, em outubro do ano passado, que levou à prisão o publicitário Duda Mendonça. Ontem, o advogado Joel Correia de Lima, que defende o chefe do cartório da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), o escrivão Fábio Kair, ainda tentou revogar a prisão, mas o pedido foi negado. O juiz atendeu apenas um pedido de transferência.

Fábio Kair foi convocado ontem para prestar novo depoimento. Ele estava preso no Hospital Penal Fábio Soares, dividindo cela com o agente Adilson Albio Vieira. O advogado de Fábio alegou que pelo fato de ele ser policial e ter curso superior não poderia ficar detido com presos comuns.

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