Título: A INFLAÇÃO DA GASOLINA
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 08/10/2005, Economia, p. 27

Combustível, sozinho, respondeu por quase metade da taxa de 0,35% em setembro

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), taxa que orienta o sistema de metas de inflação do governo, mais que dobrou em setembro. Passou de 0,17% em agosto para 0,35% no mês passado. E a culpa foi da gasolina. O reajuste aplicado pela Petrobras a partir do dia 10 daquele mês respondeu por 40% da taxa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que captou 3,36% de aumento de preço nas bombas. Com o resultado de setembro, o IPCA já subiu 3,95% no ano e 6,04% nos últimos 12 meses, enquanto o alvo fixado pelo Banco Central (BC) para 2005 é de 5,1%.

A alta do combustível somada aos reajustes no álcool (1,14%), nas tarifas de água e esgoto (2,08%), no salário dos empregados domésticos (1,82%), nas passagens aéreas (2,96%) e nos planos de saúde (0,96%) representaram 85% do IPCA. Todos esses preços sofrem algum controle do governo.

Alimentos tiveram deflação, mas preços devem subir este mês

Os preços dos alimentos também contribuíram para a elevação da taxa. Mesmo registrando deflação (queda de preços) pelo quarto mês seguido - comportamento só igualado em 2000 - as reduções vêm diminuindo. Em agosto, os preços desse grupo de produtos caíram 0,73%. Já no mês passado, o recuo foi de 0,25%.

- A tendência de queda nos preços dos alimentos deve se inverter este mês. Já estamos vendo alta em frango, carne, café, o que mostra que a deflação está se esgotando - disse Eulina Nunes, gerente do Sistema de Índice de Preços do IBGE.

Os alimentos têm funcionado como âncora para o IPCA em 2005. Subiram somente 0,55% desde o início do ano e devem chegar a dezembro com a menor taxa desde a implantação do real: perto de 1,20%, nas projeções dos analistas.

A pressão maior dos alimentos sobre a taxa de outubro terá de novo a companhia da gasolina. Isso porque o índice de setembro captou menos da metade do reajuste aplicado nos postos. A expectativa é de que os dois itens façam o IPCA subir ainda mais. Elson Teles, economista-chefe da Corretora Concórdia, projeta taxa entre 0,45% e 0,50% este mês. E Eulina lembra que houve reajuste de energia elétrica em Recife e dos ônibus urbanos em Salvador. Ambos vão aparecer em outubro.

- Mas não há qualquer descontrole da inflação. Foram altas concentradas. E as taxas vêm se mantendo baixas com a ajuda do dólar mais barato. Os itens importados permeiam toda a economia - disse.

Mesmo com a inflação comportada e dentro das expectativas do mercado, Teles não acredita em queda superior a 0,25 ponto percentual na Selic, a taxa básica de juros, hoje em 19,5% ao ano, na reunião deste mês do Comitê de Política Monetária (Copom):

- O BC tem se mostrado preocupado com os preços dos alimentos subindo de novo. Infelizmente, deve se manter conservador.

O professor da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha é mais otimista. O quadro positivo da inflação pode fazer o BC arriscar um corte mais forte nos juros: de 0,5 ponto percentual. Segundo ele, há uma parte do mercado já apostando nessa hipótese.

Com os números de setembro dentro do esperado, economistas projetam IPCA no ano entre 5,2% e 5,4%. Cunha afirma que pode até ficar dentro da meta de 5,1%:

- Mas 0,1 ponto a mais ou a menos não faz diferença. O importante é que a inflação está sob controle.

Inflação em setembro foi menor para famílias que ganham menos

Teles, por sua vez, lembra que as expectativas de inflação para 2006 estão em 4,63%, ligeiramente acima da meta de 4,5% fixada para o ano que vem. Já os núcleos (medidas que retiram da inflação as variações mais fortes) subiram um pouco em setembro. Na média, passaram de 0,30% para 0,38%. Um avanço já esperado pelos analistas, que consideram o nível confortável para as metas estabelecidas.

Com os preços dos alimentos sob controle, o Índice Nacional dos Preços ao Consumidor (INPC) - que mede a inflação das famílias que ganham de um a oito salários-mínimos - subiu menos que o IPCA, que capta as variações de quem recebe até 40 mínimos. A taxa ficou em 0,15%, depois de ter se mantido estável em agosto. No ano, o índice, que é referência para reajustes salariais, subiu 3,47% e, nos últimos 12 meses, 4,99%. A alimentação é o item que mais pesa no orçamento dessas famílias.

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