Título: GREVE DOS BANCÁRIOS AFETA SEGURADOS DO INSS
Autor: Max Leone/Antero Gomes/Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 08/10/2005, Economia, p. 31

Sem os novos códigos de acesso, aposentados são obrigados a sacar em agências que não funcionaram

Muitos segurados do INSS não conseguiram sacar seus benefícios ontem depois de esperar em imensas filas que se formaram nos caixas eletrônicos. Eles voltaram para casa sem o dinheiro porque os cadastros de identificação não foram alterados a tempo pelo INSS. Sem a atualização, o saque só poderia ser feito na boca do caixa. Mas, com a greve dos bancários, que já dura dois dias, isso não foi possível.

Segundo o INSS, iniciou-se em julho o processo de migração dos benefícios, que deixariam de ser identificados pelo número de benefício (NB) e passariam a ser visualizados pelo número de identificação do trabalhador (NIT). Essa migração envolve cem mil segurados da Caixa Econômica e 200 mil do Banco do Brasil. Os bancos não souberam dizer quantos desse total foram prejudicados. O diretor de Benefícios do INSS, Benedito Brunca, negou ter havido problemas.

Sensibilizado, um gerente da Caixa na Zona Norte do Rio deixou os segurados atingidos pelo problema receberem num caixa que tinha um funcionário trabalhando. Mesmo assim, a espera foi inevitável:

- Minha irmã está lá dentro. Chegamos na agência antes das 10h. São 13h e ainda não conseguimos resolver o problema - disse Silvana Francisca Silva, de 77 anos.

A greve geral continua pelo menos até segunda-feira em todo o país. Até o fim da noite de ontem, bancários de 17 estados, como Rio e São Paulo, confirmaram a manutenção da greve. Hoje, o comando nacional da categoria se reúne para avaliar o movimento e definir os próximos passos da campanha.

Ontem, a paralisação foi ampliada, com a adesão dos bancários de Brasília e de Santa Catarina. A Confederação Nacional dos Bancários (CNB) informou que a greve atingiu 21 estados e o Distrito Federal, o que corresponde a 116 mil dos 324 mil bancários representados pela entidade. Já a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) garantiu que o número de agências fechadas no país caiu de 761 para 733 ontem, porque mais estabelecimentos foram abertos no Rio, por meio de ações judiciais. O presidente do Sindicato dos Bancários do Rio, Vinícius de Assumpção, reafirmou que a greve tem a adesão de 70% da categoria.

A entidade informou ainda que está na Justiça tentando cassar as liminares que têm garantido a abertura dos bancos no Rio. São duas ações para cancelar as decisões em favor do Bradesco e do Santander. Em São Paulo, os bancários conseguiram na Justiça garantir o direito de greve. A decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-SP) é válida para São Paulo e a região de Osasco.

O superintendente de relações do trabalho da Fenaban, Magnus Apostólico, afirmou que a entidade não voltará a reabrir as negociações se os bancários insistirem com a proposta original (11,77% de reajuste mais participação nos lucros e resultados de um salário mais R$788, acrescidos de 5% do lucro líquido dos bancos).

Além dos segurados do INSS, vários clientes não conseguiram resolver suas pendências nos bancos:

- Vim de Guarapari para abrir uma conta conjunta com a minha sogra, de 93 anos, para que a gente possa usar numa emergência. Sabia da greve no Espírito Santo, mas já tinha marcado com ela e arrisquei - disse a aposentada Elza Pereira Veigas, de 61 anos, que acompanhava Francisca

França , de 93 anos.

Já Celina Rangel Silva, de 84 anos, não sabia da greve:

- Eu vou sempre direto ao caixa. Como a agência está fechada, teria que sacar no caixa eletrônico, mas esqueci as letras de acesso. Eu não as uso há muito tempo.

(*) Do Extra

Legenda da foto: CELINA SILVA, 84 anos, também não pôde retirar dinheiro no caixa