Título: Postais de uma cidade partida
Autor: Dimmi Amora/Maiá Menezes
Fonte: O Globo, 09/10/2005, Rio, p. 19 a 21

Ensaio fotográfico reúne pontos turísticos e favelas num só quadro

Os cenários deslumbrantes que ajudaram a transformar o Rio em cidade maravilhosa agora dividem espaço com favelas. Um ensaio do fotógrafo Marcos Tristão, do GLOBO, revelou que, vistos de determinados ângulos, ícones da paisagem carioca como o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar e a Pedra da Gávea ocupam o mesmo quadro da dura realidade das comunidades carentes. São cartões-postais da cidade partida.

As favelas próximas aos pontos turísticos do Rio incomodam o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih), Alfredo Lopes. Ele diz que o crescimento das comunidades é visível também dos hotéis:

- Do Sheraton e do Méridien, por exemplo, o turista percebe o descontrole. A favelização em áreas próximas a todos os pontos turísticos é lamentável. Em outras partes do mundo, essas áreas são tombadas, o esforço é de preservação absoluta do cenário.

Presidente da Abav defende a remoção

O presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav), Carlos Alberto Amorim Ferreira, diz que a presença de favelas nos principais cenários da cidade deveria servir de alerta ao poder público. E vai ainda mais longe, defendendo a remoção:

- O turismo teria força econômica para acabar com a miséria, mas assim é difícil. Sou totalmente favorável à remoção. Antes de ser um problema para o turismo, a favela é um lugar indigno para se morar.

O turismo de favela, porém, mostra um caminho diferente. Marcelo Armstrong, da operadora Favela Tour, diz que o estrangeiro visita comunidades carentes para perceber que o Rio não é feito apenas de paisagens deslumbrantes.

- As paisagens reais, mais duras, estão inseridas na cidade. Não há como fugir disso, estão em toda parte. Então, mostramos aos turistas interessados o outro lado do Rio, sem hipocrisia ou romantismo. Depois da visita, eles saem como uma percepção mais aprofundada da desigualdade.

A operadora de Armstrong leva oito mil visitantes por ano à Rocinha e à Vila Canoas.

O fotógrafo Marcos Tristão buscou ângulos atípicos para reunir os dois mundos numa foto. Na Rua Itapiru, no Rio Comprido, o Morro do Fogueteiro e o Cristo Redentor dividiram o quadro. Da Ponte Rio-Niterói, ele conseguiu reunir o Pão-de-Açúcar, o relógio da Central do Brasil e o Morro da Providência. O Pão de Açúcar aparece também atrás do Morro do Santo Amaro, em foto feita da Ladeira do Durão, em Santa Teresa. O relógio da Central, registrado de um viaduto perto da Linha Vermelha, divide o quadro com a Favela Moreira Pinto.

Para registrar a Rocinha com a Pedra da Gávea ao fundo, ele subiu na cobertura do Conjunto Marquês de São Vicente (Minhocão), na Gávea. Da Estrada do Sumaré, foi possível juntar o Maracanã e Morro do Turano. Já o registro do arco da Praça da Apoteose com o Morro da Coroa foi feito do próprio Sambódromo.

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