Título: Solidariedade
Autor:
Fonte: O Globo, 10/10/2005, Opiniao, p. 6

Defender um valor digno para o salário-mínimo parece ser uma das tarefas mais fáceis que existem. O problema é que essa suposta unanimidade esbarra sempre no argumento de que uma alta consistente e imediata produziria estragos nas finanças da Previdência e nos caixas de estados e municípios. O obstáculo existe de fato, ainda que seja lembrado quase sempre de forma simplista.

De qualquer modo, reconhecemos que o financiamento é um problema a ser encarado por todos que de fato preocupam-se com um salário-mínimo digno.

A CUT traz à sociedade uma proposta que, não sendo inédita, está pela primeira vez associada à idéia do mínimo como instrumento de distribuição de renda. Vamos defender a criação de um imposto de solidariedade sobre grandes fortunas destinado exclusivamente a uma política permanente de valorização do salário-mínimo.

Defendemos a taxação de todos os patrimônios líquidos a partir de R$2,4 milhões - oito mil mínimos - em 1,5%, uma única vez, e que os recursos sejam destinados a um fundo de valorização do salário-mínimo. É importante ressaltar que a taxação ocorrerá uma só vez e, portanto, não configura elevação da carga tributária.

O imposto, segundo estudos preparados pelos economistas de nossa subseção do Dieese, deve gerar recursos estimados em R$23,8 bilhões. Esse dinheiro financiaria parte de aumentos anuais de 8,9%, mais a inflação, até 2012. Ao final dos próximos sete anos, o valor do salário-mínimo atingiria R$741,53.

A nossa proposta está lançada. Veremos quais argumentos contrários serão sacados pelas 300 mil famílias que detêm mais de 50% de todas as riquezas pessoais deste país de mais de 184 milhões de habitantes.

JOÃO FELÍCIO é presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT). ARTUR HENRIQUE DA SILVA SANTOS é secretário-geral da entidade.

O imposto sobre fortunas seria cobrado uma única vez