Título: Pés no chão
Autor:
Fonte: O Globo, 10/10/2005, Opiniao, p. 6

Todas as tentativas de se aumentar o salário-mínimo além da real capacidade de absorção desses reajustes pela economia brasileira acabaram se frustrando.

Por isso, o governo e o Congresso, que definem anualmente o mínimo, devem ter como norte uma política de recuperação consistente do piso salarial dos trabalhadores, como aliás tem ocorrido nos últimos anos. Um mínimo equivalente a US$100 sempre foi apontado como uma referência a se perseguir e, no momento, em face da valorização do real frente ao dólar, o piso corresponde a mais de US$125.

É evidente que tal remuneração está longe da que é capaz de garantir uma vida digna para qualquer pessoa. Mas a eliminação da pobreza e da miséria não depende apenas de vontade e disposição políticas. Se fosse assim seria fácil: não há hoje brasileiro que não sonhe em viver num país justo e menos desigual.

No entanto, a recuperação do mínimo tem implicações econômicas que precisam ser consideradas para não inviabilizá-la. É o caso por exemplo da previdência oficial, que tem um déficit crescente. Quase vinte milhões de pessoas que recebem benefícios do INSS estão vinculadas ao salário-mínimo. De modo que aumentar o mínimo muito acima do crescimento esperado da arrecadação do INSS (que, por sua vez, tem uma relação direta com o ritmo de atividade econômica, a geração de empregos formais e a massa salarial como um todo) agrava esse déficit, causando um efeito perturbador nas finanças públicas e no conjunto da economia. Além disso, várias áreas - entre as quais estados e municípios mais pobres - não têm como acompanhar essa recuperação.

A fórmula sugerida pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) de financiar o rombo da Previdência com um imposto sobre grandes fortunas é inócua. Países ricos que buscaram essa saída a abandonaram, depois de perceberem que o capital é mais ágil, e se defende mudando rapidamente de pouso.

O limite dos aumentos é a capacidade da própria economia