Título: Para especialistas, terremotos mais intensos virão
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Fonte: O Globo, 10/10/2005, O Mundo, p. 18
Movimentação do Subcontinente Indiano contra a Ásia tem enorme e perigoso potencial de devastação
ISLAMABAD. A região afetada pelo terremoto de sábado é uma das mais propensas a tremores de grandes proporções em todo o planeta. Sismólogos alertam para o fato e, além de não descartarem novos e potentes tremores secundários nas próximas semanas, afirmam que o terremoto que matou dezenas de milhares de pessoas pode ser considerado modesto diante do potencial destrutivo das condições do subsolo da Cachemira.
O Subcontinente Indiano, no passado, era uma massa de terra independente da Ásia. Movendo-se para o norte, ele se chocou com o continente. A violência do choque pode ser facilmente constatada nos dias de hoje, pois ele formou a Cordilheira do Himalaia, a mais alta cadeia de montanhas do planeta.
O problema, segundo os especialistas, é que o Subcontinente Indiano continua a tentar se mover para o norte. A cada ano, há um movimento geológico de cerca de cinco centímetros, ou seja, de um milímetro por semana, nesta direção.
A quantidade de energia represada por este movimento do subcontinente contra o estável continente asiático é colossal. E a única forma de esta energia se desprender é através de terremotos, quando as placas tectônicas se acomodam umas sobre as outras (ou deslizam para os lados) sob a superfície.
Um milhão poderiam morrer em tremor na Índia
Os sismólogos afirmam que quanto mais tempo se passa entre um terremoto e outro na região, maior é a energia contida e maior será o próximo tremor.
Em 2001, um terremoto de força semelhante ao do fim de semana causou cerca de 14 mil mortes no estado indiano do Gujarat.
Os cientistas alertam, no entanto, que se devem esperar terremotos dezenas de vezes mais potentes que estes. Simulações feitas a pedido do governo indiano há alguns anos calculam que até um milhão de pessoas poderiam morrer num grande tremor na planície do Ganges, por exemplo. Os sismólogos, porém, afirmam que não têm como predizer quando ocorrerá o próximo terremoto.
Há 160 milhões de anos, o Subcontinente Indiano fazia parte de um supercontinente chamado Gondwana, que reunia no extremo sul da Terra o que hoje é América do Sul, África, Antártica, Austrália, Nova Zelândia, Nova Guiné e Península Arábica. Há 125 milhões de anos, o subcontinente se descolou de Gondwana e começou a se mover para o norte.
Há cerca de 45 milhões de anos - portanto, depois de uma viagem que durou 80 milhões de anos - ocorreu o grande choque entre o Subcontinente Indiano e a Ásia criou o Himalaia.
Provas geológicas foram achadas na Índia
O próprio nome do supercontinente, dado pelo geólogo Eduard Suess, é uma homenagem à região indiana de Gondwana, no centro do país. Lá foram encontradas algumas provas geológicas da grande deriva dos continentes.
Antes de Gondwana, existia apenas um supercontinente, chamado Pangéia, que foi formado há 300 milhões de anos. Há cerca de 180 milhões de anos, Pangéia se dividiu em dois grandes blocos, Gondwana, ao sul, e Laurásia, ao norte.
Pangéia não foi o primeiro continente a reunir toda a massa terrestre do planeta. Antes dele há fortes indícios de que existiu Pannotia (há 600 milhões de anos) e Rodinia (há 1,1 bilhão de anos).
SOB ESCOMBROS
FOI COMO o 11 de setembro", contou Kalim Dil Khan, morador das torre Mustapha, em Islamabad, ao presenciar a queda de uma das Torres Margala. "Quando abri as cortinas de manhã, vi a torre reduzir-se a pó e tornar-se uma pilha de entulho", disse, em estado de choque. "Minha pressão subiu. Eu moro a apenas 45 metros da torre. E o pior é que passei por um transplante de rim recentemente e não pude sair correndo." Khan conta que, apesar do número de pessoas famintas e desabrigadas, o moral da população está alto. "As pessoas estão ajudando umas às outras".
O CHORO das pessoas presas nos escombros me persegue", conta o subinspetor da polícia de Islamabad Karam Umrani, de 28 anos, sobre as vítimas soterradas na queda de uma das Torres Margala. Ele estava de serviço próximo à torre que desabou devido ao terremoto. "Ouvi uma explosão. O chão sacudiu de forma violenta e vi poeira e caos em todo lugar". Umrani correu em direção à torre para ajudar no resgate. "Cavei os escombros com minhas próprias mãos seguindo os choros e vozes soterrados. O primeiro corpo que puxei estava morto. Não pude salvá-lo."