Título: TARIFAS SUBIRAM 124% DESDE 1999, BEM ACIMA DA INFLAÇÃO NO PERÍODO
Autor:
Fonte: O Globo, 11/10/2005, Economia, p. 23

Reajuste da taxa de água e esgoto é maior até que os de telefonia e ônibus

No forte reajuste de tarifas públicas que o consumidor brasileiro enfrenta desde 1999, as taxas de água e saneamento saíram na dianteira. A alta foi de 123,71% nos últimos seis anos e meio, bem acima da inflação, que foi de 71% no período. Quando se consideram os principais preços administrados direta ou indiretamente pelo governo, a taxa de água e esgoto só perde para a energia elétrica (168%) e gás de bujão (226,66%). Até mesmo telefonia (117,10%) e ônibus urbano (68,56%), que foram os vilões da inflação em alguns anos, tiveram altas menores.

Só este ano, os preços de água e esgoto subiram 12,51%, mais do que o triplo da inflação de 3,95% até setembro.

Consumidores reclamam de falta de critérios

Se nos setores em que houve privatizações - como energia elétrica e telefonia - os critérios de reajuste são estabelecidos claramente em contrato, os consumidores reclamam que, na conta d'água, não dá para saber os parâmetros para o aumento de preço.

Além disso, como a taxa é cobrada dos condomínios, muitos moradores de edifício não percebem o peso desse item em seu orçamento.

- Os preços sobem muito acima da inflação e a Cedae não divulga quais são seus critérios - queixa-se Rômulo Mota, diretor Jurídico do Secovi/RJ, sindicato que reúne administradoras de condomínio do Rio.

A síndica Janice de Almeida Ramos conta que, no seu condomínio - um edifício misto, com 101 apartamentos residenciais e 16 unidades comerciais - a água é o maior gasto: R$7 mil por mês, contra R$5 mil da folha de pagamentos:

- O preço teve alta de mais de 100% nos últimos anos, mas o meu salário continua igual.

As tarifas públicas subiram com força após 1999, quando o dólar passou a flutuar livremente no país. Qualquer alta mais forte do dólar tem impacto, já que tarifas como energia e telefonia são reajustadas pelos IGPs, índices de inflação muito influenciados pelo câmbio.

Para o economista Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio, no caso da taxa de água e esgoto, a alta das tarifas poderia estar associada, em alguns casos, às dificuldades financeiras das empresas estatais. Seria uma tentativa de resolver problemas de caixa via preços.

- Os reajustes não são claros e o setor é monopolista. O que o consumidor pode fazer quando sobe a taxa d'água? Não tem como fugir - diz Cunha.

O síndico Paulo Henot faz acompanhamento diário do consumo de água do condomínio de 48 apartamentos, na Lagoa. Ainda assim, a conta chegou a R$2.900 em setembro, acima dos R$2.600 de agosto.

- Quando o consumo passa da média diária, investigo para ver o que está errado - diz. (Luciana Rodrigues)

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