Título: DESASTRE EVITADO
Autor:
Fonte: O Globo, 12/10/2005, Opinião, p. 6

Aentrevista do presidente da Câmara, Aldo Rebelo, na segunda-feira, lembrando o tribunal de Nuremberg, com referências a ¿ritos sumários¿ e até a citação de uma ¿operação Pôncio Pilatos¿ chegou a ser interpretada como a antecipação do pior. Entendendo-se por pior a Mesa da Câmara inocentar previamente um ou outro dos 13 indicados para cassação pelo primeiro relatório das CPIs dos Correios e do Mensalão. Erro que a Mesa, com acerto, não cometeu, ao decidir remeter todos os nomes ao Conselho de Ética.

Poderes para alterar ou arquivar o relatório a Mesa tem. Mas politicamente seria desastroso ¿ para o recém-empossado presidente Aldo Rebelo, o Congresso e a própria política. O bom senso, no entanto, não foi geral, pois o deputado alagoano João Carlos, do PL, queria salvar pelo menos três deputados: Waldemar dos Santos, da sua legenda; e Vadão Gomes e Pedro Henry, do PP, também partido sócio no mensalão petista.

Qualquer medida ou manobra protelatória destinada a barrar ou retardar a tramitação de processos de indicados à degola, por ligação com o escândalo do propinoduto do PT, será entendida como a materialização da pizza que a opinião pública tanto desconfia ainda poderá sair do forno dessa investigação.

Agora, despachados os processos pela Mesa, os indicados têm, em princípio, até o final da tarde de segunda, antes da abertura dos processos pelo Conselho de Ética, para renunciar e com isso disputar as próximas eleições. Se isso ocorrer, não deixará de ser uma meia pizza. Dois já se valeram dessa falha legal, para se auto-inocentarem pela renúncia: Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e Carlos (Bispo) Rodrigues, que estava sem partido. O contingente dos que exercitarão essa esperteza ¿ mesmo sendo um reconhecimento de culpa ¿ pode aumentar com a vitória de Ricardo Berzoini na eleição do PT. Afinal, o candidato do Campo Majoritário, apoiado pelo Planalto, garantirá legenda a qualquer dos seis petistas cassáveis que optar pela renúncia.

Passada essa fase da vida política, chegará a hora de fechar essa rota de fuga de parlamentares que não se consideram capazes de convencer o Congresso de sua inocência. Para isso, já existe um projeto do senador Osmar Dias, do PDT paranaense. Basta tirá-lo da gaveta.