Título: ALENCAR: GOVERNO FEZ PACTO COM O DIABO NA CONDUÇÃO DA ECONOMIA
Autor: Ilimar Franco e Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 12/10/2005, O País, p. 8

Vice-presidente dá nota zero para a política monetária mas elogia Palocci

SÃO PAULO. Voltando a criticar a política monetária, para a qual deu nota zero, o vice-presidente José Alencar ¿ agora no PMR, partido ligado à Igreja Universal ¿ disse ontem que o governo fez um pacto com o diabo para a condução da economia. Mas mesmo dando zero para a política monetária, Alencar elogiou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e a política econômica como um todo, dando sete como nota média ao governo.

¿ Em muitos campos a nota (para o governo Lula) é 10. Mas para a política monetária é zero ¿ disse o vice-presidente e ministro da Defesa em sabatina promovida ontem pela ¿Folha de S.Paulo¿.

Para Alencar, o pacto com o diabo se explica pela necessidade que o país tinha, na época da eleição de Lula, de responder às expectativas internacionais para garantir a estabilidade e, ao mesmo tempo, estimular o desenvolvimento. A área social, na sua avaliação, é uma das que merecem nota 10:

¿ Você pega, por exemplo, essa política que é denominada Fome Zero. É um negócio fantástico a alimentação que é dada para as escolas no Brasil. O governo pode ter uma nota 10 em sensibilidade social. Temos de compreender que, de fato, a política econômica como um todo tem muita coisa de correta, mas para a política monetária em si é que eu dou nota zero, porque é evidente que ela está errada.

¿Se não têm culpa não devem renunciar¿, diz

Com um ¿show de mineirice¿, como definiu uma espectadora do debate, Alencar raramente respondia diretamente às perguntas. Um exemplo da mineirice explícita foi sua posição sobre a possível cassação de 13 deputados envolvidos nas denúncias do mensalão.

¿ Acho que (a decisão de renunciar) é de foro íntimo. Cada um sabe como deve fazer. Se não têm culpa não devem renunciar ¿ disse.

Alencar, que deixou o PL para entrar no novo Partido Municipalista Renovador (PMR), disse que não é candidato:

¿ Não sou candidato a nada. Quando saí do partido (PL), saí sem acordo com qualquer partido. Saí para voltar para casa. Aí começaram a me visitar e me convidar. Depois chegaram a me chamar de egoísta, então ingressei num partido novo.

Ao explicar sua opção, já que tinha convite para entrar em partidos como PMDB, PDT e PSB, ele lembrou de sua trajetória como empresário:

¿ Tenho mania de começar da estaca zero.

Reafirmando lealdade ao governo e ao presidente Lula, apesar das críticas à política monetária, o vice respondeu com tranqüilidade à provocação de uma pessoa da platéia que queria saber como ele se sentia fazendo parte de um governo que traiu o povo e é corrupto.

¿ O governo não traiu o povo nem é corrupto. Está procurando fazer tudo certo, mas às vezes as pessoas podem errar. Há um erro, por exemplo, na adoção da política monetária, mas não tenho nenhum problema em participar deste governo ¿ afirmou.

Sem medo de polêmica, ele disse que vota ¿Não¿ no referendo do dia 23 sobre a proibição da comercialização de armas e munição.

¿ A proibição vai encorajar o bandido ¿ justificou.