Título: A GÊNESE DA VILA ESPERANÇA
Autor: Ana Wambier, Daniel Engelbrecht, Luiz Ernesto
Fonte: O Globo, 12/10/2005, Rio, p. 15

Uma mulher comanda a criação de uma nova favela em Realengo

Longe dos olhos do poder público, a líder comunitária Sônia Maria de Almeida Coutinho, de 53 anos, comanda com mão de ferro a formação de uma das mais novas favelas de Realengo, a Vila Esperança, na Rua Júlio Inácio 805. A favela é recém-nascida: os barracos, quase todos de madeira, começaram a ser erguidos há cinco meses num terreno abandonado do antigo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Mas o crescimento é espantoso. A comunidade já tem 106 famílias, a grande maioria vivendo precariamente em casas toscas entre pilhas de entulho. Antes, no local, havia um prédio e garagens, que foram depredados.

Da delimitação dos lotes à seleção dos moradores, tudo passa pelo crivo de Sônia. Ela diz que encabeça a ocupação porque tem experiência: participou, há seis anos, da invasão de uma área alagada no Mendanha que deu origem à Favela da Carobinha. Sônia garante que não cobra nada de ninguém. Um dos filhos dela mora na Vila Esperança, mas ela não mora lá.

¿ Estou aqui para ajudar. Comecei a organizar a ocupação para não haver brigas e para que a favela cresça organizada ¿ diz ela, que mora em Realengo.

Os lotes disponíveis são delimitados com barbantes e cabos e a líder comunitária tem o cuidado de reservar espaços para ruas e uma futura creche. Sonha construir um teatro, cuja área também já está definida. Os ocupantes trabalham na remoção do entulho e improvisam bicas d¿água e ¿gatos¿ na rede elétrica. As primeiras construções de alvenaria estão sendo erguidas agora, incluindo uma igreja. Todos os dias, novos interessados em ocupar o terreno tentam a aprovação de Sônia.

¿ A maioria vem da Vila Vintém e de Realengo, mas tem gente até de Santíssimo. Muitos viram a invasão ao passar de trem. Mas para morar aqui as pessoas têm que provar que não podem pagar aluguel. Também não aceitamos usuários de drogas e solteiros.