Título: LONGE E FORA DA LEI
Autor: Ana Wambier, Daniel Engelbrecht, Luiz Ernesto
Fonte: O Globo, 12/10/2005, Rio, p. 15

Em áreas pobres da Zona Oeste, população de favelas cresceu quase 3 vezes mais que a do asfalto

Nos bairros de menor poder aquisitivo da Zona Oeste do Rio, as favelas e os loteamentos ilegais também se expandem em ritmo acelerado. Dados do IBGE mostram que o crescimento da população de favelas, de 1991 e 2000, foi superior ao registrado no asfalto em dez dos 19 bairros da região conhecida como AP-5 (Campo Grande, Bangu e Santa Cruz, entre outros). O aumento da população nas comunidades desses bairros ¿ onde 1,5 milhão de pessoas vivem (26,3% da população do Rio) ¿ foi quase o triplo do verificado no asfalto, com a ajuda da ação de grileiros.

Enquanto de 91 a 2000, o número de moradores de favelas aumentou de 117.491 para 180.014 (53,2%), o da população formal foi de 1.137.219 para 1.362.794 (19,8%).

¿ Os loteamentos ilegais são uma praga desde a década de 80. Os lotes são vendidos por terceiros e só depois os proprietários aparecem. Há gente que compra duas vezes o mesmo terreno para tentar permanecer no local que escolheu ¿ disse o advogado Aloízio Oliveira, que já participou de um projeto que tentou regularizar a situação fundiária na região.

O presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Jerônimo de Moraes, diz que muitos grileiros da Zona Oeste adotaram recentemente nova estratégia para as ocupações:

¿ Agora, os loteadores dão o terreno de graça, mas a pessoa fica obrigada a comprar o material de construção numa loja específica ¿ disse Jerônimo.

Áreas irregulares podem chegar a 150

A estimativa é de que existam hoje nesse pedaço da Zona Oeste pelo menos 150 favelas, contra 89 registradas em 2000 pelo IBGE. A expansão ocorreu em boa parte da era Cesar Maia: o prefeito exerceu três mandatos (1993-1996; 2001-2004 e o atual) e teve como sucessor um aliado político (Luiz Paulo Conde/1997-2000).

¿ Para o comércio, esse crescimento é prejudicial. A reboque das favelas vem a violência. Não somos contra a população de baixa renda, mas contra a ausência do poder público. Essas favelas crescem por falta de uma política habitacional e por carência de serviços nas áreas de saúde e educação ¿ disse Luciano Ancelmo, diretor da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande.

As novas ocupações não param. Em Realengo, onde oficialmente existem 14 favelas, a Vila Esperança cresce desde maio num terreno de propriedade do antigo INPS:

¿ Meu marido é camelô e cobrador de Kombi. Não conseguíamos pagar o aluguel (R$200) de nossa casa. Se não viesse para cá, não teria onde morar ¿ disse Andreza Conceição, de 20 anos.

O gerente executivo do INSS na Zona Oeste, Tony Chung, disse que o órgão estuda medidas judiciais para a reintegração.

Em Bangu, onde a população das favelas cresceu 40,7% na década de 90 contra 12,4% da do asfalto, o Jardim Boa Esperança já tem 350 imóveis. A comunidade existe há nove anos, mas, segundo moradores, teve crescimento mais rápido a partir de 2003.

Percentualmente, o bairro de Guaratiba foi o que registrou o maior crescimento. O índice chegou a 195,07% contra 72,4% no asfalto. As favelas também se expandiram mais do que a cidade formal nos seguintes bairros: Inhoaíba, Paciência, Padre Miguel, Realengo, Santa Cruz, Santíssimo, Senador Camará e Senador Vasconcellos. Em Magalhães Bastos, houve uma pequena queda no número de moradores de áreas carentes. Segundo os dados do IBGE, as favelas de maior porte da Zona Oeste em 2000 eram Fazenda Coqueiro (em Senador Camará, com 4.456 domicílios) e Vila Vintém (divisa de Realengo e Padre Miguel, com 4.451 domicílios).