Título: ESCRIVÃO CULPA UM AGENTE PELO ROUBO NA PF
Autor: Ana Claudia , Antonio Werneck e Celia Costa
Fonte: O Globo, 12/10/2005, Rio, p. 21

Acusador, candidato ao benefício da delação premiada, depõe sobre o furto de R$2 milhões e outros crimes

e Gustavo Goulart

Num depoimento explosivo, o escrivão da Polícia Federal Fábio Kahir acusou o agente Marcos Paulo da Rocha, da Delegacia de Dia, de planejar e executar o roubo de R$2 milhões em euros, dólares e reais apreendidos durante a operação Caravelas, que desbaratou uma quadrilha de tráfico internacional de drogas. No seu depoimento de oito páginas prestado à Justiça Federal, ao qual O GLOBO teve acesso, Kahir (que está preso e sob proteção federal fora do Rio) disse que Rocha agiu com a ajuda de um amigo, Ubirajara Saldanha Maia, o Bira, que está preso. O dinheiro estaria escondido num carro velho. A PF procura o veículo. O escrivão contou detalhes de uma série de crimes, como desvios de cocaína de dentro da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da PF do Rio para traficantes, roubos durante operações e assassinatos praticados por policiais federais.

Escrivão diz que agente admitiu o crime

Segundo Kahir, foi Rocha, que foi lotado na DRE e já está preso, que confessou o crime numa conversa informal. Ele nega, no entanto, ter participado do crime. O roubo teria acontecido no domingo seguinte à Operação Caravelas, dia em que o agente Rocha estava de plantão na Delegacia de Dia. Kahir diz em seu depoimento que Rocha informou ter guardado o carro com o dinheiro, na garagem de um prédio onde mora uma amiga de sua mulher.

¿ Rocha contou que ia ¿sentar¿ no dinheiro por muito tempo, pois não poderia trocá-lo agora, em razão das investigações ¿ disse Kahir.

O depoimento foi prestado por Kahir na sexta-feira passada à juíza Flávia Heine Peixoto, da Justiça Federal do Rio. O escrivão decidiu colaborar com a polícia para obter a delação premiada (quando tem a redução de pena em troca de informações). Participaram do depoimento os procuradores da República Gino Liccione e Orlando Espíndola da Cunha, e o delegado Alessandro Moretti, responsável pelas investigações. O MP e os policiais negociam a inclusão de Kahir no Programa de Proteção a Testemunhas.

Em seu depoimento, Kahir também confessou ter envolvimento com o roubo de 23 cheques durante uma operação da PF numa rinha de galos no ano passado. Ele disse no depoimento ter recebido R$700 do agente Marcel Hamada Grezes, um dos presos, mas alega que não sabia o origem do dinheiro. Somente alguns dias depois ele ficou sabendo que o dinheiro se referia aos 23 cheques roubados em outubro do ano passado na Operação Rudis, que levou à prisão o publicitário Duda Mendonça e mais cinco pessoas no Clube Privê Cinco Estrelas, onde funcionava uma rinha de galos. Mesmo assim, segundo relato de Fábio Kahir em seu depoimento, ele só ficou sabendo do roubo dos cheques ao ouvir uma conversa entre Ivan Maués, Adilson Álbio Vieira e Marcos Paulo da Rocha, todos lotados na DRE e que participaram da operação na rinha.

Kahir conta que houve problemas com o grupo quando o roubo dos cheques foi descoberto e um dos envolvidos foi intimado a comparecer à delegacia que apura crimes financeiros, a Delefin, para explicar o depósito dos cheques. No depoimento, ele diz que Marcos Paulo da Rocha tinha ficado encarregado de repassar os cheques para terceiros, para que os descontassem. Segundo a PF, os agentes tentaram passar os 23 cheques no valor de R$100 mil, mas só conseguiram sacar três, num total de R$17 mil.

Dois homens, segundo o depoimento de Fábio Kahir, que teriam sido encarregados de repassar os cheques roubados, também teriam sido intimados a depor. Mesmo negando a participação no roubo, Fábio relata que foi com o grupo à procura de um dos homens para combinar uma versão para os fatos. Fábio contou que quando Rocha foi preso, no dia 5 passado, ele chegou a comentar que achava que a sua prisão teria sido em decorrência do depoimento de um homens e, que por isto, ia matá-lo.

Além dos agentes citados, Fábio Kahir contou sobre a participação dos agentes Clóvis Barrouin Mello Neto e André Campos no roubo. Todos teriam recebido uma quantia maior que ele no rateio do roubo.