Título: ACABA GREVE DE TRABALHADORES DE BANCOS PRIVADOS
Autor: Vagner Ricardo e Enio Vieira
Fonte: O Globo, 12/10/2005, Economia, p. 25

Caixa e BB continuam parados. Paralisação de servidores do BC já afeta setores essenciais da instituição

RIO e BRASÍLIA. Um dia depois de a Federação Nacional do Bancos (Fenaban) melhorar a proposta de reajuste salarial dos trabalhadores do setor, a maioria dos bancários decidiu encerrar a greve geral nacional iniciada na quinta-feira passada. Em assembléias realizadas ontem à noite, pelo menos 13 estados decidiram pôr fim à paralisação. No Rio, os trabalhadores dos bancos privados aprovaram à volta ao trabalho amanhã, mas os servidores da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil mantiveram a paralisação.

Em Brasília, no Piauí e no Maranhão a greve foi mantida nos bancos privados e nos públicos. No auge do movimento, trabalhadores de 23 estados cruzaram os braços. Contudo, a decisão da Fenaban de elevar o reajuste de 4% para 6%, o abono de mil reais para R$1.700 e a parcela fixa da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) de R$705 para R$800 dividiu os grevistas.

¿ A divisão da categoria mostra que a proposta da Fenaban não satisfaz inteiramente ¿ disse o presidente do Sindicato dos Bancários do Rio, Vinícius de Assumpção.

Os bancários de Porto Alegre foram os primeiros a encerrar a greve ontem, voltando ao trabalho ainda no começo da tarde. Em São Paulo, Rio, Roraima, Florianópolis, Acre, Alagoas, Pernambuco, Bahia e Mato Grosso o fim da paralisação foi aprovado à noite.

Procon: bancos não podem cobrar multa por atraso

O Procon-RJ orienta quem não conseguiu pagar as contas que venceram durante a greve dos bancários a rejeitar o pagamento de multas e juros. Para a instituição, as pessoas podem pagar as contas atrasadas no primeiro dia útil após o fim da paralisação. Esse direito, afirma o Procon, é assegurado pelo artigo 192 da Constituição Federal, que trata do funcionamento do sistema financeiro. Segundo o secretário estadual de Defesa do Consumidor, Sergio Zveiter, se o banco insistir na cobrança, o consumidor deve procurar o Procon. Se não houver acordo, o consumidor deve entrar na Justiça para pedir o cancelamento da cobrança.

A Fenaban, no entanto, afirma que o número de agências fechadas durante a paralisação foi pequeno ¿ em torno de 750 no país de um total de quase 18 mil ¿ e, por isso, o consumidor terá de arcar com juros e multas por atraso.

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse ontem que a greve dos funcionários da instituição começa a atingir setores essenciais. A paralisação já dura 23 dias ¿ a maior da história do banco ¿ mas o BC garante que ainda estão funcionando o sistema de pagamentos para transferência de dinheiro (DOC, TED) e a distribuição de cédulas na rede bancária. A avaliação de Meirelles foi feita numa reunião de uma hora e meia ontem com representantes dos sindicatos do BC. Ficou marcado um novo encontro na próxima sexta-feira, com participação do Ministério do Planejamento.

Ontem estavam parados 57% dos 4,4 mil servidores da instituição em todo o Brasil. Pela manhã, os funcionários em greve fizeram um abraço simbólico em torno do edifício-sede em Brasília. Segundo o diretor do Sindicato dos Servidores Públicos (Sindisep), Edison Cardoni, Meirelles mostrou interesse em solucionar a greve. Os funcionários do BC pedem reajuste de 6,82% referente a setembro de 2005 e mais 15% em junho do ano que vem.