Título: Dos campos para a política
Autor:
Fonte: O Globo, 12/10/2005, O Mundo, p. 28

Aos 39 anos, George Weah ainda é reverenciado como o maior jogador de futebol da História da África. Eleito pela Fifa o melhor jogador do mundo de 1995, sua fama nos gramados o tornou um herói liberiano. Agora, ele quer transformar sua experiência em clubes europeus como Milan, Chelsea e Paris Saint Germain em votos, para se tornar o primeiro presidente depois da guerra civil.

Weah nasceu e foi criado numa família com 11 irmãos numa favela de Monróvia e teve pouca instrução escolar. Mas seu talento para o futebol o fez chegar às seleções de base do país, o que acabou levando-o a ser contratado por clubes da Europa.

Seu sucesso como jogador o faz extremamente popular entre os liberianos mais jovens. Analistas afirmam que isso, num país em que cerca de dois terços dos eleitores têm menos de 25 anos, é importante para o candidato.

Ontem Weah comemorou o alto comparecimento às urnas.

¿ É um momento histórico para a Libéria. Multidões estão indo votar. Isto é sinal de que o povo está farto de guerra ¿ disse o jogador, que votou perto do lugar onde nasceu.

Outro trunfo de Weah é o fato de ele nunca ter participado de qualquer forma dos governos corruptos da década de 1980 e nem ter tido qualquer papel na guerra civil. Desde que deixou os campos de futebol, ele morou ora em Nova York, nos Estados Unidos, ora em Gana, país do oeste da África próximo da Libéria. Até mesmo seu partido, o Congresso para a Mudança Democrática, foi criado recentemente.

Vários dos principais concorrentes de Weah tiveram participação, em maior ou menor grau, no conflito militar. Weah só voltou para seu país depois de o ex-presidente Charles Taylor ir embora.

¿ Meus oponentes fracassaram no teste nacional para liderar este país. Chegou a hora de outra pessoas fazer isso ¿ disse Weah em diversos comícios durante a campanha. ¿ Quero fazer para Libéria o que os outros não fizeram nos 158 anos de existência deste país.

Uma outra proposta bastante popular de Weah é reduzir o período do mandato presidencial. Segundo a lei atual, o presidente terá um mandato de seis anos e poderá concorrer a uma reeleição. O ex-jogador quer que o mandato seja menor, de quatro anos. Num país em que golpes e quarteladas são comuns, a presença de um mesmo líder no poder por muito tempo é motivo de apreensão.

Já adversários e outros críticos acusam Weah de ser totalmente inexperiente em questões políticas. Isso o tornaria um possível objeto de manipulação.

A campanha contra ele também chegou a ter golpes baixos. O ex-jogador foi acusado de ter adotado a nacionalidade francesa, o que o impediria de ser candidato a presidente na Libéria. No entanto, a comissão eleitoral não aceitou a denúncia.