Título: Fiel da balança
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 13/10/2005, O GLOBO, p. 2

Mesmo divididos em relação ao apoio ao governo Lula, está crescendo no PMDB o entendimento comum de que o partido deve ter um candidato próprio nas eleições presidenciais de 2006. Os peemedebistas acreditam que a rejeição ao PT não tem como contrapartida o desejo do retorno ao poder do PSDB. E portanto há espaço para romper com a polarização entre tucanos e petistas.

A direção do PMDB marcou eleições prévias para escolher o candidato no dia 5 de março. O ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho, que tem o melhor desempenho nas pesquisas de intenções de voto, já está em campanha. Mas seu nome enfrenta resistências nas cúpulas regionais. Para essas seria mais palatável que o partido escolhesse como seu candidato os governadores Germano Rigotto (RS) ou Jarbas Vasconcelos (PE), historicamente identificados com o partido.

Mesmo entre os governistas do partido considera-se improvável uma coligação com o PT para apoiar a reeleição do presidente Lula, uma vez mantida a verticalização, regra pela qual as coligações nos estados se subordinam a aliança nacional. A existência de candidatos competitivos em 18 estados torna improvável uma coligação com o PT ou o PSDB.

O costume no PMDB é o de abandonar seus candidatos. Foi assim em 1989 com Ulysses Guimarães e em 1994 com Orestes Quércia. Mesmo que isso volte a ocorrer no ano que vem, peemedebistas como o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), avaliam que a candidatura própria será um grande negócio porque o partido se colocará na condição de decidir o segundo turno. E nessa situação terá maior poder para negociar sua participação no governo de quem for eleito com seu apoio.

Os principais articuladores do governo Lula já dão como favas contadas a candidatura do PMDB. Avaliam que esse candidato seria um fantasma nos calcanhares do candidato da coligação PSDB-PFL. Pelos cálculos do comando do PMDB, se o partido eleger uma bancada entre 80 a 90 deputados e ficar com cerca de 20 cadeiras no Senado, ele continuará sendo indispensável para quem estiver ocupando o Palácio do Planalto. Os problemas decorrentes do apoio parlamentar atomizado, baseado em partidos médios, como o PTB, o PL e o PP, construído no governo Lula, fundamentam a certeza dos caciques do PMDB de que o partido vai se dar bem em quaisquer circunstâncias.