Título: CAMINHADA PELA PAZ REÚNE 3 MIL EM SÃO PAULO
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Fonte: O Globo, 03/11/2004, O país, p. 9

Outra manifestação concentrou mil pessoas em missa celebrada por Dom Paulo Evaristo Arns no Cemitério Dom Bosco

SÃO PAULO. Cerca de 3 mil pessoas, segundo a Guarda Civil Municipal, participaram ontem da 9ª Caminhada pela Vida e Pela Paz, promovida pelo Fórum em Defesa da Vida, que teve como destino o Cemitério São Luiz, em São Paulo. Também foi inaugurado um posto de arrecadação de armas na base comunitária da guarda, que fica no cemitério.

O público fez um minuto de silêncio em homenagem às vítimas da violência enterradas no cemitério. Próximo ao palco, um grupo segurava uma bandeira de 360 metros quadrados com a palavra paz estampada. A bandeira, do Instituto Sou da Paz, foi feita com retalhos enviados por diversas entidades que lutam contra a violência.

Os coordenadores do evento incentivaram a população a entregar suas armas nos postos da campanha do desarmamento. O novo posto, que ficará no local até 23 de dezembro, começou a receber armas ontem mesmo.

Ato público também no ¿cemitério da impunidade¿

Em outra manifestação, cerca de mil pessoas participaram de missa a céu aberto celebrada pelo arcebispo emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, no Cemitério Dom Bosco, em Perus, Zona Norte. Nele estão enterrados presos políticos mortos pelo regime militar, presidiários mortos no massacre do Carandiru e cinco dos sete moradores de rua assassinados no massacre da Praça da Sé, em agosto deste ano.

¿ Esperamos que os moradores de rua mortos não caiam no esquecimento, como aconteceu com os prisioneiros políticos e as vítimas do massacre do Carandiru ¿ disse o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, afirmando que em Perus ¿fica o cemitério da impunidade¿.

¿ Muitos consideram que nem todos têm os mesmos direitos. Vamos celebrar os irmãos que foram enterrados aqui em valas comuns, os moradores de rua do Centro da cidade, mortes que envergonharam o Brasil perante o mundo todo ¿ disse Dom Paulo, durante sermão de abertura da missa. Ele manifestou a insatisfação por terem ¿jogado em valas aqueles que lutaram por um Brasil melhor¿, fazendo alusão às mortes não esclarecidas durante a ditadura.

A missa terminou com uma caminhada ao túmulo dos cinco moradores de rua mortos na região da Sé.