Título: IML DESCARTA MORTE NATURAL DE LEGISTA DE DANIEL
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 14/10/2005, O País, p. 11

Ministério Público considera a hipótese de envenenamento e começa a investigar se foi suicídio ou homicídio

SÃO PAULO. A hipótese de morte natural do legista Carlos Delmonte Printes, responsável pelo laudo sobre o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), foi descartada pelo Instituto Médico-Legal (IML), contestando a versão preliminar da polícia de que o perito teria sido vítima de um possível quadro de broncopneumonia, além de miocardia.

O Ministério Público considera a possibilidade de a morte ter sido provocada por envenenamento. Não se sabe, porém, se Delmonte, encontrado morto anteontem em seu escritório, ingeriu algum produto tóxico de forma voluntária. Os resultados dos exames só ficarão prontos dentro de sete dias.

A possibilidade de suicídio ganhou força com a descoberta de uma carta deixada pelo perito para a família dois dias antes da morte. Nela, Delmonte praticamente se despede. Num dos trechos, pede para que sejam avisados dois peritos que trabalhavam com ele. Pediu para que seu corpo não fosse periciado caso morresse. Também deixou informações sobre o extrato de seu cartão de crédito, com instruções para que o filho pagasse. E ainda deixou instruções para que seu corpo fosse cremado e suas cinzas entregues para uma mulher chamada Luciana cinco dias após sua morte.

Legista teria pedido que namorada não fosse avisada

Luciana seria uma namorada do legista, com quem Delmonte vinha se encontrando desde que se separou. Ele teria exigido que ela não fosse informada de sua morte imediatamente.

Em razão das suspeitas, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) não autorizou que o corpo fosse cremado. Por isso, o enterro, segundo parentes, deve acontecer hoje. A decisão da polícia foi tomada para não impedir futuros exames no corpo do legista.

O DHPP pediu ontem à Justiça autorização para fazer busca e apreensão no escritório onde Delmonte foi encontrado morto. A polícia acha que pode localizar algum documento que leve à causa da morte do legista.

Segundo as investigações, Delmonte apresentava um quadro de depressão, reforçado pela morte de um dos filhos num acidente de carro, o envolvimento de um outro filho com drogas, além da separação recente de uma namorada, que seria a própria Luciana.

A hipótese de homicídio foi praticamente descartada pelos promotores que investigam a morte de Celso Daniel.

¿ Não creio, em princípio, que haja ligação entre a morte dele e o assassinato de Daniel. Essa questão das sete mortes surpreende, mas não vejo vínculos ¿ disse o promotor Roberto Wider, que investiga o seqüestro e a morte do prefeito.

Designado para investigar o caso do legista, o promotor do 1º Tribunal de Júri, Marcelo Milani, também afasta a possibilidade de morte natural:

¿ Ele foi vítima de morte violenta, mas não sabemos se suicídio ou homicídio. Isso depende de investigações.

Em agosto, em depoimento à Promotoria Criminal de Santo André, Delmonte informou aos promotores que Daniel não havia sido vítima de crime comum, como sustentava a polícia. Para ele, o prefeito foi ¿barbaramente torturado¿ antes de morrer. Daniel foi encontrado com oito tiros numa estrada de terra de Juquitiba, na Grande São Paulo, em 2002. Com Delmonte, sobe para sete o número de pessoas que morreram após ter alguma espécie de envolvimento com o assassinato do prefeito.