Título: TESE DE FOCO COM ORIGEM NO PARAGUAI GANHA FORÇA EM MATO GROSSO DO SUL
Autor: Geralda Doca
Fonte: O Globo, 14/10/2005, Economia, p. 23

Gado nos assentamentos do MST na região continua sob suspeita

CAMPO GRANDE, BRASÍLIA e BELO HORIZONTE. A hipótese de que o foco de febre aftosa na fazenda Vezozzo, em Eldorado (MS), a 430 quilômetros de Campo Grande, tenha vindo do Paraguai ganhou força ontem. O serviço de inteligência de Mato Grosso do Sul obteve informações de que na propriedade costumavam-se vacinar apenas as matrizes, e de que um caminhão vindo do país vizinho esteve na fazenda transportando animais cerca de 15 dias antes de a doença ser constatada. Outra informação que está sendo apurada é que num sítio ao lado da Vezozzo um animal morreu de aftosa e o dono o enterrou no pasto.

No Palácio do Planalto, acredita-se cada vez mais que animais contaminados possam ter sido trazidos do Paraguai por fazendeiros de pequeno porte que querem fazer lucro rápido com a venda no Brasil, já que a arroba do boi é muito mais barata no país vizinho.

O diretor da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro) de Mato Grosso do Sul, João Cavallero, confirmou ainda a suspeita de que o foco tenha origem em assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e em pequenas propriedades localizadas na fronteira com o Paraguai. Há informações de que animais com cicatrizes da doença teriam sido vistos num assentamento. João Pedro Stédile, coordenador nacional do MST, rebateu as suspeitas. Stédile acusou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, de priorizar o pagamento de juros e barrar investimentos em prevenção da doença.

Autoridades investigam problemas com as vacinas

Em Brasília, aonde foi participar ontem de uma reunião com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, o governador de Mato Grosso do Sul, José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, afirmou que suspeitava de que o vírus da aftosa viera do Paraguai.

¿ Se isso se confirmar, muda toda a nossa linha de raciocínio. E o que é pior, indica que pode haver conivência de funcionários da Iagro ¿ afirmou uma fonte do governo.

Outra informação que está sendo apurada é que na fazenda Vezozzo e na propriedade em Japorã onde há suspeita de outro foco de aftosa eram utilizadas vacinas do mesmo laboratório. Técnicos da vigilância sanitária querem verificar se as vacinas são do mesmo lote. Se forem, é um indício de que pode haver problema na eficácia do produto ou de que o tipo de vírus encontrado é resistente ao medicamento.

A Iagro enviou para o laboratório do Ministério da Agricultura em Belém material recolhido em Japorã. Desde terça-feira, técnicos estão na fazenda verificando a situação de vacinação do rebanho de 800 cabeças. O resultado dos exames em Belém deve ser liberado somente na próxima semana.

COLABORARAM Geralda Doca e Luiz Fernando Rocha