Título: MEDO DA AFTOSA ATINGE VENDA DE FRANGOS E SUÍNOS
Autor: Geralda Doca
Fonte: O Globo, 14/10/2005, Economia, p. 23

Segundo o Ministério da Agricultura, Chile e Argentina embargaram importação de todos os tipos de carne brasileira

BRASÍLIA. A febre aftosa que atingiu o gado em Mato Grosso do Sul já ameaça as exportações de outras carnes, como a de frango e a de porco. Ontem, o Ministério da Agricultura informou os embargos a todos os tipos de carne brasileira pelo Chile ¿ o quinto maior comprador, que vetou a entrada dos produtos originários de Mato Grosso do Sul ¿ e pela Argentina ¿ que não comprará em todo o país. Os produtores temem que países que já suspenderam as compras de carne bovina, como a Rússia, ampliem seus vetos.

A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) estima que o prejuízo com o ressurgimento da febre aftosa reduza em 3% o Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário este ano.

De acordo com cálculos do departamento econômico da CNA, as barreiras sanitárias que foram impostas ao Brasil causarão uma perda de renda no setor de R$2,5 bilhões apenas no mercado doméstico. Por isso, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, começou ontem a pressionar os demais estados a reabrirem suas fronteiras com Mato Grosso do Sul.

Nas exportações, o impacto será de pelo menos US$1 bilhão em divisas com a carne bovina, e dificilmente o país conseguirá atingir a meta de US$3,3 bilhões. Entre janeiro e agosto, as exportações de carne bovina atingiram US$2,096 bilhões. Já as vendas gerais de carnes atingiram US$6,4 bilhões em 2004 e, este ano, a previsão era alcançar US$8 bilhões.

Brasil pode perder liderança de mercado para a Austrália

A estimativa foi baseada nos embargos anunciados por 34 países (os 25 membros da União Européia, Rússia, Chile, Bolívia, Bulgária, África do Sul e Israel, além dos parceiros do Mercosul) e considera a influência negativa das suspensões das compras de carne bovina em outras categorias, como suínos e frangos.

¿ Os investimentos cairão e menos negócios serão fechados ¿ disse o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul, Leôncio de Souza Brito.

Segundo a CNA, a descoberta da doença deverá fazer com que o Brasil perca para a Austrália, em 2006, a posição de maior exportador mundial de carne. Além disso, ficará inviável concluir as negociações com os EUA para vender o produto in natura, a médio prazo, e abrir mercados no Japão, na Coréia, em Cingapura e na Malásia.

As dificuldades decorrentes da descoberta da doença atingiram em cheio Mato Grosso do Sul, que tem o maior rebanho do país, diante das restrições impostas pelos estados vizinhos.

¿ Isso pode criar um problema de desequilíbrio regional ¿ afirmou Rodrigues, acrescentando que as barreiras devem ficar restritas a Eldorado e às cidades vizinhas.

SP compra 90% da produção de Mato Grosso do Sul

Rodrigues, que participa de um evento hoje em Piracicaba, deverá conversar com autoridades de São Paulo sobre os prejuízos para Mato Grosso do Sul. Cerca de 90% de toda a produção do estado são destinados ao mercado paulista. O secretário de Produção de Mato Grosso do Sul, Dagoberto Nogueira Filho, disse que São Paulo proibiu toda a entrada da mercadoria, além de leite e derivados.

¿ Se São Paulo abrir a divisa, o problema econômico de Mato Grosso do Sul será resolvido ¿ disse o secretário.

Fecharam as divisas Goiás, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Rodrigues disse acreditar que esses estados revejam suas decisões hoje, em reunião com os secretários de Agricultura das unidades consideradas livres da doença.