Título: O jogo das alianças
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 15/10/2005, O Globo, p. 2

É cada vez mais remota a possibilidade de o Congresso derrubar a regra da verticalização das coligações. E mesmo que venha a fazê-lo, é grande a chance de que tenha sua decisão revogada pelo STF, por inconstitucionalidade. Mas independentemente desta questão, as alianças estão se armando e podem acabar levando a um natural enxugamento do quadro partidário.

Ontem as executivas de PT, PCdoB e PSB tiveram uma reunião conjunta em que reafirmaram suas afinidades e a intenção de marcharem juntas em 2006. Falaram em projeto nacional e desenvolvimento mas em resumo disseram que tentarão juntos reeleger o presidente Lula. Esta é a velha Frente Brasil Popular formada por Lula em sua primeira disputa presidencial, a de 1989. O novo presidente do PT, Ricardo Berzoini, diz que a política de alianças do partido não está definida mas que ela deve ¿consolidar sua relação com os aliados tradicionais e dialogar com os demais partidos da base¿. Os tradicionais são os dois que se reuniram ontem com o atual presidente do PT, Tarso Genro.

Os outros aliados são PTB, PL e PP, partidos que habitam a terra do meio no Congresso, que alguns chamavam de centrão e depois da crise passaram a ser chamados de partidos do mensalão (expressão inadequada por sua generalização). Mesmo sem a verticalização (que gostariam de ver derrubada para terem maior liberdade de alinhamento nos estados), eles podem ficar meio escanteados em 2006. O estigma é forte. Berzoini não faz restrição a alianças com eles mas mesmo antes da crise já tinham, todos, fortes antagonismos com o PT nos estados. Com o PTB, depois da detonação de Roberto Jefferson, a relação será ainda difícil. O PL perdeu o vice-presidente José Alencar, que era seu ás de ouro. Sem ele, perde importância como aliado. O PP também perdeu Severino Cavalcanti, que como presidente da Câmara vinha encarecendo o apoio do partido ao governo. Agora, não tem o que oferecer. É provável que não tenham candidato à Presidência e façam alianças várias nos estados. Todos eles, em 2002, obtiveram votações nacionais pouco superiores às exigências da cláusula de barreira, obtendo entre 5% e 7% dos votos. Continuam, pois, no limiar. Um mau desempenho no ano que vem poderá levá-los a buscar fusões e incorporações com outros partidos. Mas para Lula, podem fazer falta nos estados.

Na oposição, já está bastante consolidado o realinhamento entre o PSDB e o PFL para 2006. O PMDB, com ou sem verticalização, deve ter candidato próprio. Por seu tamanho e capilaridade, será sempre um aliado cobiçado tanto no segundo turno como depois, para garantir a maioria parlamentar que nenhum presidente deve alcançar apenas com sua coligação. Esta é a mais grave conseqüências de nosso hiper-multipartidarismo.

Outros dois partidos parecem destinados ao isolamento. PPS e PDT planejaram uma aliança que vai se tornando inviável, sobretudo porque os pedetistas não suportam a afinidade do PPS com os tucanos. Acabarão cada qual tendo seu candidato a presidente, o que no mínimo pode ajudá-los a vencer a barreira do desempenho. O PPS já não tem Ciro Gomes, deve sair com Roberto Freire. O PDT tem agora Cristovam Buarque como alternativa.

Os ausentes na campanha do `Sim¿

A ausência de líderes políticos expressivos na campanha do `Sim¿ pode ser uma falha, como apontado ontem pela coluna, mas está acontecendo por diferentes e relevantes razões, justifica o secretário-geral da frente Brasil Sem Armas, deputado Raul Jungmann. Embora ele mesmo e o presidente da frente, senador Renan Calheiros, estejam estressados pelo excesso de compromissos. Já os governadores, que tiveram aqui a ausência destacada, não manifestaram qualquer desejo de participar.

¿ Ocupantes de cargos executivos não gostam de entrar no que chamamos de bola dividida. Evitam assumir posição em questões polêmicas. Seriam bem-vindos mas nenhum se manifestou ¿ diz Jungmann.

A omissão deve ser agravada pelo fato de que a maioria deles disputará novo mandato em 2006. Candidato a governador no Brasil não revela nem o time de futebol para que torce. Imagine se vão entrar numa discussão destas.

Uma outra razão seria a contaminação do referendo pela crise política, em diferentes medidas. O desgaste dos políticos em geral, diz Jungmann, levou naturalmente à opção por uma campanha centrada em protagonistas da sociedade civil. O antagonismo partidário inviabilizou aparições conjuntas, como a de Lula e Fernando Henrique, que chegaram a ser combinadas pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Por fim, o PT, o velho PT, diz Jungmann, está fazendo falta. Hoje, com alguns de seus líderes enfrentando processos de cassação, e com a luta interna do PED recém-encerrada, o partido que tem maior experiência em mobilização das ruas está absolutamente impossibilitado de ter uma participação relevante na campanha.

O MEC apresentou ontem uma proposta de aumento salarial para os professores universitários. Deve ser a busca da amizade perdida com a intelectualidade.

APESAR DA CRISE no governo e no Congresso, o terceiro setor vai bem. Mais de duas mil pessoas e mais de 200 palestrantes participaram ontem em Fortaleza da Expo-Brasil de Desenvolvimento Local e Sustentável, patrocinada pela Rites (Rede de Informação do Terceiro Setor) e dezenas de ONGs, Ossips e assemelhadas. É o Brasil profundo.