Título: TIJUCA, UM BAIRRO DEGRADADO PELA FAVELIZAÇÃO
Autor: Ruben Berta
Fonte: O Globo, 15/10/2005, Rio, p. 15

Bairro perde 8% dos moradores do asfalto entre 1991 e 2000 enquanto queda de população de favelas é dez vezes menor

Sonho de consumo da classe média da cidade desde a década de 20, a Tijuca vive um pesadelo. Encravado num vale, o bairro está cercado por favelas, que ocupam principalmente as encostas. Segundo dados oficiais, são 13 favelas. Números do IBGE mostram que de 1991 para 2000 a população do asfalto caiu 8%, de 168.043 para 154.767. Nas favelas, também houve queda, mas dez vezes menor: 0,8%, de 26.440 para 26.225. Para a Associação de Moradores do bairro, o cerco não pára de se fechar:

¿ O crescimento continua forte nas favelas. Um dos poucos espaços que ainda tínhamos à beira da nascente do Rio Trapicheiros foi ocupado e hoje já se transformou na favela Nova Coréia com cerca de 200 moradias. Quando denunciamos à prefeitura, em 1996, não havia mais do que meia dúzia de barracos, mas nada foi feito ¿ disse o presidente da associação, Denys Darzi.

Nova Coréia está crescendo para o alto

Na favela Nova Coréia, o presidente da Associação de Moradores, João Carlos de Souza Ramos, afirma que a comunidade não tem crescido para os lados, mas admite que não tem como conter o crescimento vertical. Ele cita os eco-limites instalados pela prefeitura em 2001 e conta que boa parte dos moradores já é antiga no local:

¿ Eu estou aqui desde que nasci, há 50 anos. O que acontece é que as pessoas têm família e aí constroem em cima da laje. Mas, para os lados, a gente mesmo não deixa crescer.

Se na Nova Coréia não há crescimento para os lados, no início da mesma rua (Henrique Fleuss) onde fica a comunidade surge uma nova favela, chamada de Trapicheiros. Com cerca de 15 moradias, a comunidade já começa a se unir com o Salgueiro. Ontem, quando repórteres do GLOBO estiveram no local, havia material de construção exposto, indicando a expansão. O subprefeito da Tijuca, Vinicius Chueri, diz que está atento ao crescimento da favela:

¿ Já derrubamos algumas construções irregulares ali e fazemos operações periódicas com a Comlurb para recolher material de construção. Nossa idéia é fazer a remoção, desapropriar a área e fazer o reflorestamento ¿ disse Chueri.

O subprefeito afirma que desde que assumiu em 2001 a situação tem melhorado. Vinicius Chueri explicou que em algumas comunidades receberam o programa Favela-Bairro, o que ajuda no monitoramento constante. Ele contou que no Morro da Formiga foram desapropriadas recentemente cerca de 150 casas que estavam numa área de risco.

Moradores dizem que favelização não pára

Moradores da Tijuca sustentam que o crescimento das favelas no bairro é constante. Segundo eles, não é preciso morar numa das comunidades para acompanhar o crescimento veloz desordenado.

¿ Da minha janela dá para ver como crescem as favelas. Um dia tem dois barracos. Um mês depois, há seis ¿ contou a promotora de vendas Helena Ribeiro, residente na Tijuca há 30 anos, que tem apartamento na Rua São Miguel, próximo ao Morro da Casa Branca.

A mesma opinião tem o professor aposentado Eduardo Machado, residente na Rua Conde de Bonfim, quase em frente ao Morro da Formiga:

¿ Eles dizem que monitoram, mas a verdade é que as favelas crescem, sim. Da minha janela é fácil olhar o crescimento, fora as balas traçantes da guerra do Morro do Borel contra o Morro da Formiga.

Segundo Gilson Rodrigues, presidente da associação de moradores da Liberdade, o maior conjunto de favelas da Tijuca, o Turano ¿ que engloba as comunidades de Sumaré, Rodo, 117, Matinha, Liberdade e Chacrinha ¿ tem o número de moradores estabilizado. Apesar de os dados do IBGE mostrarem 26.225 moradores em 2000 em toda a Tijuca, ele diz que somente no Turano há 35 mil, mas esse número não cresceria desde 2002:

¿ Nos últimos anos, não aumentou. Hoje em dia, o controle é bem maior.

Colaboraram:Fernanda Pontes, Jaqueline Costa e Ronaldo Braga