Título: CÂMBIO CHINÊS, A POLÊMICA NOS DEBATES DO G-20
Autor:
Fonte: O Globo, 15/10/2005, Economia, p. 27

Ministro das Finanças da China reage a pressões e diz que mudanças virão no momento apropriado

PEQUIM. A reunião dos ministros de finanças e presidentes dos bancos centrais do G-20 ¿ que reúne os países desenvolvidos e as principais nações em desenvolvimento do mundo ¿ começa hoje em Xianghe, cidade a 50 quilômetros de Pequim, dando destaque ao fato de a anfitriã do evento, a China, não seguir uma regra básica fixada pela comunidade internacional: a da flutuação livre do câmbio. O câmbio artificialmente desvalorizado do país, que faz os produtos chineses extremamente baratos, ocupa o centro dos debates e vem sendo bombardeado pelo secretário do Tesouro dos EUA, John Snow.

O secretário, há três dias na China, pretende costurar o apoio do presidente do BC Europeu, Jean-Claude Trichet, do ministro das Finanças do Japão, Sadakazu Tanigaki, dos ministros das Finanças do G-7 (os sete países mais ricos) e, especialmente, do presidente do FMI, Rodrigo Rato, numa estratégia de pressão para que Pequim deixe o yuan flutuar mais livremente em relação ao dólar.

O Banco Popular da China, o BC do país, fez em julho uma valorização de 2,1% do yuan frente ao dólar (após dez anos congelado) e mudou a referência do câmbio para uma cesta de moedas. Desde então, o yuan se valorizou 0,22% e hoje um dólar vale oito yuans.

Sempre num ambiente recheado amabilidades, o ministro das Finanças da China, Jin Renqing, fez questão de afirmar que seu país não se sente pressionado e que seu processo de reforma cambial tem ritmo próprio. Mais: numa espécie de contra-ataque, o país quer deixar claro que os EUA têm um problema de déficit fiscal que deve ser resolvido e que está na raiz dos seus problemas.

¿ A flexibilização do yuan tem ritmo particular e segue os interesses da China. Usar o câmbio chinês para resolver desequilíbrios globais, especialmente desequilíbrios de certas economias, é impossível e desnecessário. Já nos comprometemos a andar na direção de uma economia de mercado e vamos deixar o mercado ter uma participação maior nas regras de câmbio. Mas no momento apropriado ¿ disse o ministro em entrevista coletiva.

Em debate, também, impacto do petróleo na inflação

Pressionado pelo Congresso e indústria americanos, Snow não se cansa de repetir o mantra da reforma cambial e pede mais abertura no mercado financeiro da China, ainda hoje bastante restritivo à atuação de bancos estrangeiros:

¿ Depois de duas décadas visitando a China, é possível perceber que os hotéis de primeira categoria já concorrem em serviços com os melhores hotéis do mundo. Precisamos fazer o mesmo com o setor financeiro. A taxa de créditos podres é inaceitável e indica que o dinheiro está sendo administrado por mão erradas.

O fato é que as taxas recordes dos dois países ¿ o déficit comercial recorde dos EUA e o superávit comercial recorde da China ¿ não deixam muito espaço para amenidades.

¿ Qualquer decisão do governo da China não será baseada no déficit comercial com determinados países, mas no comércio da China com o mundo ¿ disse Jin Renqing.

Para Alan Greenspan, presidente do Federal Reserve, o BC dos EUA, o encontro será uma excelente oportunidade para se discutir o impacto da alta nos preços do barril de petróleo na inflação mundial.