Título: VENDA DE TÍTULOS BRASILEIROS FAZ BOLSA TER QUEDA
Autor: Paula Dias
Fonte: O Globo, 15/10/2005, Economia, p. 27

Bovespa caiu 2,64% de manhã, mas fechou em baixa de 0,37%. Risco-país chegou a 404 pontos

SÃO PAULO. O mercado financeiro brasileiro teve ontem um dia de nervosismo. Depois de cair 2,64% em uma manhã agitada, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) diminuiu o ritmo e fechou em baixa de 0,37%, aos 31.770 pontos. Na semana, a perda foi de 0,68%. Os títulos brasileiros negociados no exterior, que iniciaram o dia com uma onda de vendas por parte dos investidores, influenciaram a Bolsa pela manhã. Mas à tarde o Global 40, o papel mais negociado, se recuperou e fechou em alta de 0,74%, a 118,38% do valor de face. Já o risco-país, que chegou à máxima de 404 pontos, acabou fechando aos 383 pontos centesimais, com baixa de 2,05%.

A Bovespa abriu em alta, refletindo o alívio com a inflação ao consumidor americano em setembro. A alta de 0,1% no núcleo da inflação contrariou a tese de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) aumentaria os juros além do esperado. Mas o alívio foi interrompido por especulações a respeito da corretora Refco e do fundo Pinco, ambos americanos. A gigante Refco é acusada de fraudes, tem um executivo preso e teve as operações limitadas pela Securities Exchange Commission (SEC). Segundo analistas, a corretora operava com alto volume de ativos emergentes em carteira.

Dólar encerrou em queda de 0,62%, a R$2,245

O Pinco é o maior detentor de títulos brasileiros e passa por uma troca de gestores. Informações de que a nova administração estaria interessada em reduzir o volume de ativos emergentes na carteira do fundo incentivaram as vendas.

¿ O mal-estar veio do mercado de (títulos da) dívida, que acabou contaminando os demais. O receio era de que os fundos estrangeiros se desfizessem de grandes quantidades de títulos brasileiros, por causa desses problemas específicos ¿ disse Gustavo Alcantara, gestor da Mercatto.

Para Nicolas Balafas, consultor de investimentos da Planner Corretora, a correção de ativos dos últimos dias poderá levar o Banco Central a adotar uma postura mais conservadora na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na próxima semana.

A forte queda da Bovespa não se sustentou, graças ao bom desempenho das bolsas americanas e à recuperação dos títulos brasileiros. Segundo Luiz Roberto Monteiro, consultor de investimentos da corretora Souza Barros, as ordens de venda pela manhã foram lideradas pelos investidores estrangeiros.

Apesar disso, os números mostram que os estrangeiros reduziram o ritmo, mas não estão de saída do mercado brasileiro. O balanço da Bovespa mostrou que o fluxo de recursos externos nos dez primeiros dias de outubro está positivo em R$12,084 milhões. No acumulado do ano, o saldo de investimento estrangeiro está positivo em R$4,097 bilhões.

Já no mercado de câmbio o dólar se manteve em baixa durante todo o dia, mesmo nos momentos de alta do risco-país e durante o leilão de compra de moeda do Banco Central (BC). O dólar fechou em baixa de 0,62%, a R$2,245. Com o resultado, a cotação encerra a semana perto da estabilidade, com baixa de 0,13%. O BC aceitou comprar moeda por R$2,254. Foi o oitavo leilão desde que o BC retomou as compras, no dia 3.