Título: VARIG: GOVERNO TENTARÁ ADIAR REUNIÃO DE CREDORES
Autor: Flávia Barbosa e Sergio Fadul
Fonte: O Globo, 15/10/2005, Economia, p. 30

Planalto teme que venda das subsidiárias VarigLog e VEM afaste possíveis investidores

BRASÍLIA. O governo vai tentar adiar a próxima reunião de credores da Varig, marcada para o dia 19, para ter tempo de amarrar uma proposta que considere viável para salvar a empresa. Representado por quatro credores ¿ Infraero, Banco do Brasil, BR Distribuidora e Receita Federal ¿ o Executivo não aprova nenhuma das três propostas em negociação. Mas está alarmado com os vencimentos de quase R$100 milhões que esperam a companhia até o fim do ano, e teme que já na próxima semana a Justiça americana determine o arresto de aeronaves em favor de empresas de leasing.

Ontem, o vice-presidente e ministro da Defesa José Alencar coordenou reunião no Palácio do Planalto, na qual ficou claro que o governo não aceita a venda das subsidiárias VarigLog (de logística) e Varig Engenharia de Manutenção (VEM). Segundo fontes, se essas empresas forem alienadas, será quase impossível atrair um investidor para a Varig, decretando sua falência.

¿ São os únicos ativos ¿limpos¿ da companhia. Querer vendê-los é uma temeridade ¿ afirmou uma fonte próxima às negociações. ¿ Se não tivermos um plano B para fazer frente às propostas hoje na mesa, VarigLog e VEM serão vendidas a preço de banana e os recursos vão virar pó.

Na Esplanada dos Ministérios, acredita-se que a Varig pode estar próxima de seus momentos finais se uma ação rápida não for implementada. As propostas de gestão feitas pela atual administração e pelo empresário Nelson Tanure são consideradas impraticáveis pelo governo. A dos funcionários ¿ que prevê que os credores assumam a gestão ¿ é vista com bons olhos, mas precisa ser mais bem elaborada do ponto de vista financeiro.

Empréstimo do BNDES dependeria de garantias

O governo nega que, se os credores ¿ a maioria empresas públicas ¿ assumirem a gestão, isso representaria uma estatização da Varig. A administração poderia ser repassada a terceiros por esses credores e, assim que o saneamento fosse feito, a companhia seria negociada.

¿ A visão de que é estatizante é estreita. O plano seria temporário e é melhor do que o Erário não receber o que lhe é devido de volta ¿ argumentam interlocutores do governo.

O encontro de contas entre o que a Varig ganhou na Justiça pelo congelamento de tarifas (cerca de R$2,5 bilhões) e suas dívidas com INSS e Receita está descartado. Já um empréstimo do BNDES dependeria das garantias reais que a Varig teria para oferecer. Por isso, para o governo é fundamental adiar a venda de VarigLog e VEM.

Alencar vai se reunir com os presidentes da Varig, Omar Carneiro, e do Conselho de Administração da empresa, David Zylberstajn segunda-feira.