Título: ARMAS E MUNIÇÃO DESAPARECEM DAS LOJAS
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 15/10/2005, O País, p. 3
Em SP, houve aumento de 223% no número de registros, recadastramentos e transferências
SÃO PAULO, PORTO ALEGRE e FORTALEZA. Um aumento de 223% foi observado no número de registros, recadastramentos e transferências de armas em São Paulo entre maio e agosto deste ano, um recorde que é reflexo direto do referendo do próximo domingo. Os pedidos de registro de armas aumentaram de 647 em maio para 2.092 em agosto no estado de São Paulo.
Os donos de armas legais estão comprando de uma só vez toda a cota anual de 50 unidades de munição que, de acordo com a lei, têm direito para cada arma registrada, prevenindo-se contra uma possível proibição depois do referendo.
¿ Nas últimas três ou quatro semanas tivemos um aumento de cerca de 30% na procura por munição. São donos de armas registradas que querem comprar a cota anual. Eles não sabem o que vai acontecer depois do referendo ¿ explicou Sérgio Maresca, um dos donos da loja Ao Gaúcho, no centro de São Paulo.
As balas mais vendidas nas lojas de São Paulo são para revólveres calibre 38 e pistolas automáticas 380. Os preços dos pacotes com dez unidades variam em média de R$30 a R$50.
¿ A pessoa que comprava a munição aos poucos, no decorrer do ano, está fazendo já a compra de toda a cota ¿ confirma Nilton Gonçalves de Oliveira, da Top Gun Armas e Munições, também no centro paulistano.
São poucos os compradores tanto de armas quanto de munição que aceitam falar sobre o assunto. Um deles, o neurocirurgião Douglas Ramos, confirma que já comprou a cota a que tem direito, embora não revele quantas armas tem.
¿ Já comprei o que me é permitido de munição ¿ diz ele, praticante de tiro, que anda armado e já enfrentou com sucesso os bandidos que tentaram assaltá-lo em três ocasiões.
¿ Por causa do referendo comprei uma caixa de 50 unidades. Minha próxima troca de munição seria só daqui a quatro meses. Mas antecipei a compra ¿ revela o advogado Paulo Cremonesi, dono de uma pistola semi-automática 380.
Com uma procura de armas 30% a 40% maior que a verificada nos últimos meses, o Rio Grande do Sul, sede da única indústria de armas curtas para civis, a Forjas Taurus, viu as pistolas desaparecerem no mercado. Há duas semanas não se encontra uma pistola nas 12 lojas que vendem o produto na capital e a situação não é diferente no interior. A procura por munição cresceu 200%.
¿ As pessoas correram às lojas nas últimas semanas e a Taurus não conseguiu atender à demanda. A indústria produz com base em planilhas da demanda dos últimos 30 dias e não conseguiu se programar para atender este crescimento. A informação é de que esgotaram toda a sua capacidade de produção de pistolas. Hoje todos querem pistola, não há mais procura por revólver ¿ revela Dempsey Magaldi, diretor-presidente do Grupo Magaldi, a maior revenda de armas e munição na capital gaúcha e única organização que reúne em um mesmo lugar loja, escola e clube de tiro.
Procurada, a Forjas Taurus não quis se pronunciar.
De janeiro a setembro deste ano, a Forjas Taurus vendeu 1.229 armas curtas para civis em todo o país, segundo Magaldi. Ele tem 30 a 40 pessoas na fila de espera, se ainda houver tempo hábil para comprar uma arma, dependendo do resultado do referendo.
Mesmo assim, segundo ele, isso representa uma pequena parte do que era vendido antes da entrada em vigor do Estatuto do Desarmamento. Enquanto a Magaldi vendia em média 20 armas por mês antes do estatuto, a média dos últimos meses tem sido de apenas três.
Cresce procura por títulos de sócios de clube de tiro
De outro lado, nunca houve tanta demanda por títulos de sócios de seu clube de tiro. Nos últimos meses essa procura aumentou pelo menos 25%, tendência que, segundo ele, também se manifesta de um modo geral no estado. Mas Magaldi alerta quem pensa que, entrando em um clube de tiro, poderá comprar munição à vontade. A burocracia, explica ele, é grande.
O bicampeão sul-americano de tiro olímpico Gustavo Fruet, dono de loja de armas em Fortaleza, diz que as vendas de armas, que haviam caído, voltaram a ter pequeno aquecimento nos últimos três meses. Segundo ele, cerca de 45 armas foram vendidas nos últimos 90 dias. Há uma semana ele suspendeu as vendas porque não haverá tempo hábil de registrar a arma na Polícia Federal.