Título: CORRIDA ARMAMENTISTA
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 15/10/2005, O País, p. 3
Segundo a PF, só em agosto foram vendidas 12.600, 306% a mais que em fevereiro
Aproximidade do referendo sobre a proibição do comércio de armas provocou uma inusitada corrida de brasileiros às lojas especializadas na venda de revólveres, pistolas e balas. Só em agosto foram vendidas 12.600 armas, 306% a mais que as 3.100 comercializadas em fevereiro, segundo dados do Sistema Nacional de Armas (Sinarm) da Polícia Federal. Ao todo, nos dez primeiros meses deste ano, foram postas em circulação 68.800 novas armas, 27,85% a mais que as 53.811 vendidas ao longo do ano passado.
A PF detectou significativo aquecimento da demanda em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul e em Pernambuco. O estouro da corrida armamentista até inverteu a tendência de queda da venda de armas que vinha se consolidando nos últimos anos. Em 2002, quando os governos estaduais passaram a abastecer o Sinarm com informações mais seguras, foram registradas 1.756.384 armas em todo o país. Em 2003, a vendagem sofreu o primeiro impacto e caiu para 888.009 armas. Ano passado, no auge da campanha pelo desarmamento, as vendas despencaram para 53.811.
Mas, com os debates sobre vantagens e desvantagens do desarmamento com vistas ao referendo do próximo dia 23, o comércio de armas de fogo voltou a crescer gradativamente. Em janeiro, foram vendidas 3.200 armas. O número pulou para 7.600 em abril. Três meses depois, em julho, as vendas saltaram para 9.800. Em agosto, a escalada armamentista dos cidadãos comuns atingiu o pico: 12.600 armas entregues a um anônimo exército de particulares.
O crescimento da demanda, um movimento inédito num país em paz há mais de 200 anos, surpreendeu os lojistas. Muitas lojas estão com os estoques reduzidos quase a zero. Um dos termômetros do reaquecimento do comércio das armas é a Casa Tucunaré, loja de uma porta só aberta na Galeria dos Estados, um minishopping próximo à Esplanada dos Ministérios. Uma das donas da loja, Cláudia Enir Rosa, calcula em mais de 160% o recente aumento da venda de armas.
¿ Estamos vendendo por semana agora quase a mesma quantidade que vendíamos por mês há um tempo atrás ¿ diz Cláudia.
Comércio de balas também disparou
Ela disse que só não está vendendo mais porque há alguns meses as fábricas vêm diminuindo os repasses ao comércio. Os fabricantes estariam com receio de aumentar a produção para atender a demanda momentânea e, depois, sofrerem prejuízos com o encalhe de parte do material, caso o referendo aprove a proibição prevista no Estatuto do Desarmamento. Sem estoque, as vendas em setembro ficaram em 10.600, ligeiramente abaixo das armas registradas em agosto, mas bem acima da média anual.
O quadro de incerteza também disparou o comércio de balas. Numa antecipação a possíveis restrições pós-referendo, civis e militares que têm armas registradas também estão correndo às lojas em busca de munição, num movimento típico de quem se prepara para um iminente conflito armado.
¿ A venda de munição aumentou em mais de 50%. Tem muita gente comprando toda a quota permitida de balas para revólveres e pistolas ¿ acrescentou Edson Ferreira Junqueira, gerente do setor de vendas de armas da Sport Center, no Conjunto Nacional, o maior shopping no centro da capital federal.
COLABOROU Evandro Éboli