Título: O MANUAL DE GUERRA QUE GUIA O SOUZA AGUIAR
Autor:
Fonte: O Globo, 15/10/2005, O País, p. 9

Equipe de emergência do hospital é perita em casos gravíssimos

A quantidade de sangue jorrando de alguma parte do corpo pode assustar, mas a primeira providência da equipe na unidade de reanimação é garantir as funções vitais. Diariamente convivendo com casos de grave violência, residentes da emergência de politrauma no Hospital Souza Aguiar aprendem a lidar com os casos mais difíceis. No Rio, como em outros lugares do mundo, eles seguem uma espécie de manual de guerra:

¿ A hemorragia pode matar em poucas horas, mas a falta de oxigênio mata em três minutos ¿ conta o cirurgião de tórax Sérgio Sardinha.

Entre os sinais vitais que devem ser preservados estão a vias aéreas e a estabilidade da coluna cervical, a respiração, a circulação e o estado neurológico. Segundo ele, após estabilizados os sinais vitais, os médicos precisam verificar os estragos provocados pelo projetil. Quanto maior a energia cinética da bala, maior o estrago, ou seja, quanto mais veloz for o tiro, menor a chance de sobrevivência da vítima.

Energia aumenta em 30 vezes o diâmetro da bala

Segundo Sérgio Sardinha, armas com capacidade de disparos entre 200 e 660 metros por segundo, como revólveres, são consideradas de baixa velocidade. Acima disso, são armas de alta velocidade, com alto grau de letalidade. Uma AR-15 alcança a velocidade de 925 metros por segundo:

¿ Quando o projetil entra em contato com o corpo, a energia que ele traz aumenta em até 30 vezes o tamanho do diâmetro do projetil, causando um estiramento nos tecidos que, dependendo da região, pode ser fatal. Por isto que quando o tiro de fuzil acerta o tórax ele normalmente mata ¿ afirmou Sardinha.

A maioria dos feridos sofre lesões em pernas e braços

Segundo ele, das vítimas de armas de guerra que chegam vivas à emergência, a maior parte sofreu ferimentos, em cerca de 60% dos casos, nos membros superiores e inferiores.

Ele explicou ainda que, mesmo quando o tiro é superficial, a energia cinética pode provocar grandes estragos quando em contato com o corpo.

¿ Com certeza, a maior parte dos que chegam aqui baleados por fuzis tem ferimentos de raspão ou nos membros superiores e inferiores. Porque quando o tiro é direto na região torácica a vítima não tem qualquer chance. E temos muitos casos de grandes lesões em que o tiro foi superficial, mas o estrago provocado pela propagação da energia do projetil foi enorme ¿ explicou Sérgio Sardinha.